
VINDE A UM LUGAR DESERTO (Mc 6,30-34)
Sobre o Evangelho deste Domingo (21/07/2024)
OS EVANGELHOSMC 6
Enfim, os Doze estão de volta. Regressam alegremente da primeira missão trazendo dela duas experiências muito ricas: a verificação palpável do notável poder de Deus colocado ao seu dispor e aquelas marcas inevitáveis de todo trabalho missionário: cansaço, poeira e pés calejados.
Que faz o Mestre? Convida os apóstolos ao deserto, figura do silêncio e da oração. O próprio Jesus experimentara muitas vezes seu próprio deserto. Sabe que os discípulos precisam dele.
Sempre hão de existir os críticos mordazes da oração, aqueles ativistas que, ironicamente, chamam um retiro espiritual de “perfumaria”, uma espécie de “luxo” inaceitável diante das exigências da missão e das necessidades urgentes do povo de Deus. Jesus não pensa assim...
Como comenta Frei Cantalamessa, ao retirar os discípulos do cerco da multidão e levá-los ao deserto, “Jesus não abandona o povo para preparar uma elite; não se afasta das multidões; apenas provê a elas de uma outra forma: provê ao futuro do reino. Hoje diríamos: preocupa-se com o futuro da Igreja”. O Mestre sabe que é da oração que eles irão extrair as forças e as inspirações para um apostolado eficaz.
“Nessa formação dos futuros cabeças das comunidades – prossegue Cantalamessa – Jesus alterna a ação (o envio da missão) e a contemplação; o contato com a multidão e a solidão com Ele. Nesta última, Ele os educa à oração (é num desses momentos que ensina aos discípulos o Pai-nosso; cf. Lc 11,1ss). De tal forma, pouco a pouco, remove deles o ânimo inato de mercenários e cria neles a alma do pastor, daquele que está pronto a oferecer a vida pelas ovelhas e pelo reino (cf. Jo 10,12ss).”
Desde os anos 60, uma febre de ação apoderou-se dos ministros da Igreja, temerária aposta nos recursos humanos e nos projetos que brotam do cérebro intelectualizado. O resultado é conhecido: fracasso, cansaço, decepção e fuga do rebanho. Sem falar na fuga dos próprios pastores, que acabaram abandonando o seu ministério!
Parece que começou uma mudança. Ou melhor: uma volta à Tradição, onde estava gravado no mármore o binômio beneditino: ora et labora. Nesta ordem, pois é da oração que brota um trabalho frutuoso. Vários seminários se dedicam a orientar os futuros pastores nos caminhos da espiritualidade. Um deserto que promete fartas colheitas...
Orai sem cessar: “O Senhor guiou o seu povo no deserto...” (Sl 136,16)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.