
A CABEÇA DE JOÃO BATISTA... (Mc 6,14-29)
OS EVANGELHOSMC 6
Sim, é uma cena crua e chocante. Mas devia ser... natural! Se lemos o Evangelho, ouvimos a advertência muito clara do Mestre aos discípulos: “Sereis odiados por todos por causa do meu nome” (Mt 10,22). “Sereis presos e perseguidos” (Lc 21,12). “Se me perseguiram, perseguirão a vós também!” (Jo 15,20b).
Ora, João Batista é um discípulo por antecipação: ele é o pré-cursor, aquele que “corre na frente”. Últimos dos profetas, e maior que todos eles, seu martírio apenas confirma a sua missão e sua identificação com o Cordeiro que ela havia apontado às margens do Jordão (cf. Jo 1,36).
Beda, o Venerável [673-735 a.C.], escreve sobre o Batizador: “Assim este homem tão grande chega ao fim de sua vida pela efusão de seu sangue. após um longo e penoso cativeiro. Ele, que anunciara a Boa Nova da liberdade e uma paz superior, é lançado à prisão por gente ímpia. É trancado na obscuridade de um calabouço aquele que tinha vindo para dar testemunho da luz, e merecera ser chamado de tocha ardente de luz pela própria Luz, que é o Cristo! (Jo 5,35)”
Como pano de fundo, a evidência de que o martírio é o “estágio” final de uma vida cristã realizada plenamente. Um cristianismo à espera de louvores, títulos, cargos, aplausos e sucesso não passa de um mal-entendido. O distintivo do cristão é a cruz; qualquer outro seria uma fraude.
Prossegue a reflexão de Beda: “Por seu próprio sangue é batizado aquele a quem foi dado batizar o Redentor do mundo, ouvir a voz do Pai se dirigir ao Cristo e ver descer sobre ele a graça do Espírito Santo. Mas isso não lhe parecia penoso; ao contrário, parecia-lhe leve e desejável aguentar pela verdade os tormentos temporários que deixavam entrever eternas alegrias. Ao preferir a morte, que, de todo modo, era naturalmente inevitável, João escolhia aceitá-la confessando o nome de Cristo. Assim ele recebia a palma da vida eterna”.
Em tempos difíceis para todos, quando o sofrimento se torna o pão de cada dia, o cristão leva a vantagem de encontrar na cruz um ponto de contato com o Crucificado, transfigurando a própria dor e buscando aliviar a dor do próximo. Longe de se desesperar ou de buscar compensações de qualquer tipo – prazeres, diversões ou anestesias -, o discípulo fiel abraça a cruz na certeza de assim se identificar com o Mestre.
Já sabia disso o próprio Apóstolo: “A vós foi concedida a graça, não só de crer em Cristo, mas também de sofrer por ele”. (Fl 1,29) E a certeza de um desfecho feliz: “Eu penso que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deve revelar-se em nós” (Rm 8,18).
Orai sem cessar: “Para mim, o viver é Cristo!” (Fl 1,21)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Leitura do Evangelho de São Marcos, Cap. 6, 14-29
Herodes e Jesus —14E o rei Herodes ouviu falar d`Ele. Com efeito, seu nome se tornara célebre, e diziam: “João Batista foi ressuscitado dos mortos, e por isso os poderes operam através dele”. 15Já outros diziam: “É Elias”. E outros ainda: “É um profeta como um dos profetas”. 16Herodes, ouvindo essas coisas, dizia: “João, que eu mandei decapitar, foi ressuscitado”.
Execução de João Batista —17Herodes, com efeito, mandara prender João e acorrentá-lo no cárcere, por causa de Herodíades, a mulher de seu irmão Felipe, pois ele a desposara 18e, na ocasião, João dissera a Herodes: “Não te é lícito possuir a mulher de
teu irmão”. 19Herodíades então se, contra ele e queria matá-lo, mas não podia, 20Pois Herodes tinha medo de João e, sabendo que ele era um homem justo e santo, o protegia. E quando o ouvia, ficava muito confuso e o escutava com prazer. 21Ora, chegando um dia propício: Herodes. Por ocasião do seu aniversário, ofereceu um banquete aos seus magnatas, aos oficiais e às grandes personalidades da Galileia. 22E a filha de Herodíades entrou e dançou. E agradou a Herodes e aos convivas. Então o rei disse, à moça: “Pede-me o que bem quiseres, e te darei”. 23E fez um juramento: “Qualquer coisa que me pedires eu te darei, até a metade do meu reino!” 24Ela saiu e perguntou à mãe: “O que é que eu peço?” e ela respondeu: “A cabeça de João Batista”. 25Voltando logo, apressadamente, à presença do rei, fez o pedido: “Quero que, agora mesmo, me dês num prato a cabeça de João Batista”. 26O rei ficou profundamente triste. Mas, por causa do juramento que fizera e dos convivas, não quis deixar de atendê-la. 27E imediatamente o rei enviou um executor, com ordens de trazer a cabeça de João. 28E saindo, ele o decapitou na prisão. E trouxe a sua cabeça num prato. Deu-a à moça, e esta a entregou a sua mãe. 29Os discípulos de João souberam disso, foram lá, pegaram o corpo e o colocaram num túmulo.
Texto da Bíblia de Jerusalém.

