
AMBOS CORRIAM JUNTOS (Jo 20,1-9)
Antonio Carlos Santini
4/20/2025
Madrugada de domingo. Ainda está “meio escuro”. Mas todos parecem ter pressa... Depois do silêncio e da imobilidade do Sábado Santo, quando os corações estavam de luto pela morte do Senhor, os primeiros boatos sobre a Ressurreição injetam adrenalina e mobilizam os músculos... das pernas! É hora de correr!
De fato, Madalena corre até Simão Pedro para anunciar que o túmulo estava vazio. Pedro e o outro discípulo (João, que narra a cena) também correm. Correm juntos, diz o texto do Evangelho: duo simul, traduziu São Jerônimo.
Temos aqui dois tópicos para nossa reflexão. Se nosso cristianismo estacionou no Cristo morto da Sexta-feira Santa, adotaremos uma atitude estática, morna, rotineira. Deixaremos as coisas como estão. Teremos as pernas pesadas. Mas se ouvimos a boa notícia da Ressurreição do Senhor, de imediato moveremos as pernas e nos poremos a caminhar. No mínimo, nos moveremos para “verificar” a notícia. E, uma vez verificada, seremos os missionários que o Senhor deseja. Madre Teresa de Calcutá confirma: “Se queremos ser missionários, precisamos mover as pernas!”
O segundo ponto é que Pedro e João – isto é, a instituição e o carisma – corriam juntos, harmônicos e complementares. E se João, muito mais moço, chega primeiro, tem o visível cuidado e a reverência de aguardar por Simão Pedro. Este entrará primeiro no túmulo vazio. E ambos – juntos – contemplarão vazio o casulo formado pelas bandagens que antes envolveram o corpo do Senhor.
Os 32 kg de aromas (mirra em pó e aloés líquido) com que José de Arimateia envolvera o cadáver de Jesus, segundo o costume judaico (cf. Jo 19,39-40), produziram, após algumas horas, uma crosta sólida que manteve o formato do “casulo” depois que Jesus, ao ressuscitar, abandonou seu invólucro temporário. E sem desmanchar as bandagens que envolviam seu corpo, como se vê nos ícones da Igreja do Oriente! Foi esta imagem que levou o discípulo a ver e crer.
Nossa Igreja precisa levar em conta esta permanente lição: a Instituição precisará sempre do ânimo novo do Carisma e não pode sufocá-lo. Este, por sua vez, depende muito da estabilidade e do discernimento da Hierarquia. Como nos ensinou o Concílio Vaticano II, o Espírito Santo “dota e dirige a Igreja mediante os diversos dons hierárquicos e carismáticos”. (Cf. Lumen Gentium, 4.)
Inaugurando um novo tempo pascal, qual será o novo trajeto em que devemos caminhar? De que maneira nós estamos procurando harmonizar os nossos carismas com a instituição eclesial?
Orai sem cessar: “Fazei-nos, Senhor, testemunhas de vossa ressurreição!”
Leitura do Evangelho de João 20, 1-9.
O sepulcro encontrado vazio —1 No primeiro dia da semana, Maria Madalena vai ao sepulcro, de madrugada, quando ainda estava escuro, e vê que a pedra fora retirada do sepulcro. 2 Corre então e vai a Simão Pedro e ao outro discípulo, que Jesus amava, e lhes diz: “Retiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o colocaram”. 3 Pedro saiu, então, com o outro discípulo e se dirigiram ao sepulcro. 4 Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro. 5 Inclinando-se, viu os panos de linho por terra, mas não entrou. 6 Então, chega também Simão Pedro, que o seguia, e entrou no sepulcro; vê os panos de linho por terra 7 e o sudário que cobrira a cabeça de Jesus. O sudário não estava com os panos de linho no chão, mas enrolado em um lugar, à parte. 8 Então, entrou também o outro discípulo que chegara primeiro ao sepulcro: e viu e creu. 9 Pois ainda não tinham compreendido que, conforme a Escritura, ele devia ressuscitar dos mortos.
Palavra da Salvação.
Fonte: Bíblia de Jerusalém
Os discípulos Pedro e João correndo para o túmulo na manhã da ressurreição
Eugène Burnand / 1898
Óleo sobre tela
83 x 135 cm
Museu de Orsay, Paris, França.

