
DE CORDEIRO A PASTOR
Antonio Carlos Santini (Jo 10, 27-30)
5/11/2025
O Evangelho de hoje nos coloca diante de duas imagens bíblicas de profundo significado. De um lado o cordeiro, isto é, a “vítima”, que se estende desde Gênesis 22,13 - quando o filho Isaac foi poupado e, em seu lugar, Abraão sacrificou um cordeiro, que prefigurava Cristo – até Apocalipse 5,3 – onde o Cordeiro, no trono, é o único que tem o poder de abrir o livro selado.
Do outro lado, o pastor, isto é, o “guia, o condutor”, que o Antigo Testamento nos apresenta como imagem de Deus (cf. Sl 23,1), mas também se aplica às lideranças do povo escolhido (cf. Jr 3,15; Ez 34,5).
Hoje, basta ligar a TV ou acessar uma rede social para ver quanta gente se arvora em pastor, quase sempre explorando seu rebanho. É que eles pretendem ser pastores sem, antes, se tornarem cordeiros...
O abade cisterciense André Louf nos fala sobre Jesus Cristo, cordeiro e pastor: “Antes de se tornar pastor, Jesus foi cordeiro, um cordeiro entre outros, como os outros, em tudo semelhantes a eles, exceto no pecado. Cordeiro sem mancha nem defeito, o único apto ao sacrifício, o único digno de ser apresentado e oferecido a Deus em nome de todos os outros animais, seus irmãos. Primeiro imolado, inaugurando e consagrando o novo sacrifício, cordeiro cujo sangue carrega e tira o pecado do mundo, e purifica de toda sujeira. Cordeiro de Deus que precede todos os outros cordeiros no caminho para o Pai. Ninguém vem ao Pai a não ser por ele.”
“Foi assim – prossegue A. Louf – que o Cordeiro de Deus se tornou – maravilhosamente – o único verdadeiro pastor, o bom pastor. Pastor, porque primeiro foi cordeiro, e existe uma verdadeira conaturalidade entre ele e os outros cordeiros. Seus cordeiros, ele os conhece, como nenhum outro pastor jamais conhecerá os seus, pois um dia ele quis reuni-los até o ponto de ser ele mesmo um cordeiro entre eles, aquele que encontrou graça aos olhos de Deus, aquele que Deus, ao imitar um rito secular, quis inteira e exclusivamente para si, através do sangue e do fogo do sacrifício.”
É o sacrifício que modela e dá têmpera ao pastor. Sem uma vida “sacrificada” pelo rebanho, jamais teremos pastores autênticos. Para ser pastor, não basta ser líder, comunicador, administrador... Primeiro, é preciso ser “cordeiro” e vítima do amor de Deus, para depois transmitir esse mesmo amor ao rebanho sedento de Deus...
Orai sem cessar: “O Cordeiro, no meio do trono, será o seu Pastor... (Ap 7,17)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Leitura do Evangelho de João, Cap. 10, 27-30.
27As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem; 28eu lhes dou a vida eterna e elas jamais perecerão, e ninguém as arrebatará de minha mão. 29Meu Pai, que me deu tudo, é maior que todos e ninguém pode arrebatar da mão do Pai. 30 Eu e o Pai somos um”.
Palavra da Salvação.
Fonte: Bíblia de Jerusalém

