
DOU-VOS A MINHA PAZ
Antonio Carlos Santini (Jo 14, 27-31a)
Nosso mundo sempre foi palco de violência. Na primeira família, Caim matou Abel. Nossa História é um desfile de agressões e rapinas, destruição e fome. Sempre foi assim. Mas hoje, com a rede de comunicações, temos uma compreensão mais clara dessa realidade e, por isso mesmo, é cada vez mais agudo o nosso anseio pela Paz.
E só Jesus Cristo, “nossa Paz” (Ef 2,14), pode responder ao nosso grito. Por isso mesmo, em cada Eucaristia, nos dirigimos ao Cordeiro de Deus, a divina Vítima do altar, para clamar: “Dai-nos a Paz!”
Na Exortação Apostólica “Reconciliação e Penitência” (1984), o Papa João Paulo II juntava os dados de nosso tempo, como cacos de cerâmica, para recompor o triste mosaico que estamos vivendo: divergências tribais, discriminação de todo tipo, tortura e repressão, corrida armamentista, iníqua distribuição dos bens do planeta, direitos humanos espezinhados, multiplicação da miséria...
“Por mais impressionantes que se apresentem tais lacerações à primeira vista – diz o Papa -, só observando-as em profundidade se consegue individuar a sua raiz: esta se encontra numa ferida íntima do homem. À luz da fé, nós a chamamos ‘pecado’, começando pelo pecado original, que cada um traz consigo desde o nascimento, como uma herança recebida dos primeiros pais, até os pecados que cada um comete, abusando da própria liberdade.” (RP, 2)
Ora, para que Jesus possa semear em nós a semente da paz, devemos começar por uma profunda reconciliação. Reconciliação com Deus, com o próximo, com nós mesmos. Enquanto pecamos - e, por isso mesmo, agredimos a Deus, ao próximo e a nós mesmos – somos cúmplices do ódio e da guerra, atamos as mãos do Deus da Paz.
Quanta violência dentro de nosso coração! Impaciências, asperezas, silêncios e rancores, perdão negado, vinganças tramadas. Quanto impulso de subir mais alto, superar o irmão, usar o outro! Nós somos a guerra! E acusamos a sociedade de violenta, acusamos a Deus de omisso...
Os monges de Tibhirine, na Argélia, foram decapitados por ativistas muçulmanos. Deram sua vida de graça. Viviam no silêncio e na oração em sua montanha. Aceitaram ser vítimas pela paz. E nós? Queremos estar do lado vencedor? Ou aceitamos ser cordeiros com o Cordeiro de Deus?
Orai sem cessar: “Reine a paz dentro de teus muros!” (Sl 122,7)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Leitura do Evangelho de São João 14, 27-31.
27Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo dá. Não se perturbe nem se intimide vosso coração. 28Vós ouvistes o que vos disse: Vou e retorno a vós. Se me amásseis, ficaríeis alegres por eu ir para o Pai, porque o Pai é maior do que eu. 29Eu vo-lo disse agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, creiais. 30Já não conversarei muito, ” pois o príncipe do mundo vem; contra mim, ele nada pode, 31mas o mundo saberá que amo o Pai e faço como o Pai me ordenou. Levantai-vos! Partamos daqui!
Fonte: Bíblia de Jerusalém
AS CAPINADORAS DE ERVAS
Jules Breton / 1868
Museu Metropolitanos de Nova Iorque, EUA
Observe a Paz das figuras do quadro, ainda que o trabalho seja árduo e longo (já no crepúsculo).
Em sua autobiografia, Breton descreveu esta cena crepuscular de camponeses arrancando cardos e ervas daninhas — "seus rostos aureolados pela transparência rosada de seus capuzes violetas, como se venerassem uma estrela fecunda" — observando que havia descoberto o tema como um "quadro acabado" perto de sua aldeia natal, Courrières, no norte da França.

