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É O SENHOR! (Jo 21, 1-19)

Antonio Carlos Santini (Jo 6,1-15)

Da bruma do amanhecer, um desconhecido na praia aponta aos pescadores o local onde acharão os peixes. Na verdade, o Mar de Tiberíades – apelido de luxo para o pequeno Lago de Genesaré – não parecia muito rico em peixes. Segundo os evangelhos, eram frequentes as redes vazias, com os peixes aparecendo a um milagre de Jesus (cf. Lc 5,5; Mt 17,27; Jo 21,3).

Quem seria aquele desconhecido? Era Jesus, mas não o reconheceram. Aconteceu com os discípulos o mesmo que ainda ocorre hoje com multidões: não reconhecem Jesus. Mas um fato novo e inesperado abriu os olhos deles: a pesca fora do comum, além das expectativas.

O que será necessário para esse “reconhecimento”? Para o monge André Louf, é o amor. Quando as redes estufaram sob o peso da quantidade incomum de peixes, somente um – aquele que Jesus amava – foi capaz de fazer a ligação entre o fato e seu agente. E exclamou: - “É o Senhor!”

“Somente o amor reconhece. Somente o amor está em condições de afastar o véu da neblina habitual para pressentir a presença de Jesus. Tal como para os discípulos de Emaús, que o reconheceram a partir da ardência de seu coração em brasa quando Ele lhes explicava as Escrituras ou partia o pão.”

É fácil concluir que se comete um grave engano quando as catequeses são dirigidas para o cérebro, e não para o coração. Pouco adiante “informar” a respeito de Jesus Cristo, se a catequese não nos leva a amá-lo. Muito tempo perdido em “aulas”, pouco tempo consagrado à oração...

Os raciocínios são inúteis quando falta o amor. E se o amor se manifesta, os arrazoados são dispensados. “E nenhum dos discípulos ousava perguntar quem era ele, pois sabiam que era o Senhor.”

Por isso mesmo, a cena seguinte traz o diálogo entre Jesus e Simão Pedro. Jesus poderia ter perguntado: - “Simão, tu entendeste o significado profundo de minhas parábolas?” Ou ainda: - “Simão, você é capaz de explicar o mistério da Santíssima Trindade?” Mas ele não fez nada disso. A pergunta de Jesus se resumiu ao essencial: - “Simão, filho de Jonas, tu me amas?”

Daí, a tradução que Urs von Balthasar faz da passagem de 1Jo 4,16: “Reconhecemos o amor de Deus por nós e, então, pudemos crer”. Da experiência de sentir-se amado brota a fé. Não são os dogmas e os silogismos que sustentam os mártires. Só o amor basta...

Orai sem cessar: “Eu te amo, Senhor, minha força!” (Sl 18,1)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Escute a reflexão no vídeo abaixo

Leitura do Evangelho de São João 21, 1-19.

Aparição à margem do lago de Tiberíades

— 1Depois disso, Jesus manifestou-se novamente aos discípulos, às margens do mar de Tiberíades. Manifestou-se assim: 2Estavam juntos Simão Pedro e Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e dois outros de seus discípulos. 3Simão Pedro lhes disse: “Vou pescar”. Eles lhe disseram: “Vamos nós também contigo”. Saíram e subiram ao barco e, naquela noite, nada apanharam. 4Já amanhecera. Jesus estava de pé, na praia, mas os discípulos não sabiam que era Jesus. 5Então Jesus lhes disse: “Jovens, acaso tendes algum peixe?” Responderam-lhe: “Não!” 6Disse-lhes: “Lançai a rede à direita do barco e achareis”. Lançaram, então, e já não tinham força para puxá-la, por causa da quantidade de peixes. 7Aquele discípulo que Jesus amava disse então a Pedro: “É o Senhor!” Simão Pedro, ouvindo dizer “É o Senhor!”, vestiu sua roupa — porque estava nu — e atirou-se ao mar. 8Os outros discípulos, que não estavam longe da terra, mas cerca de duzentos côvados, vieram com o barco, arrastando a rede com os peixes. 9Quando saltaram em terra, viram brasas acesas, tendo por cima peixe e pão. 10Jesus lhes disse: “Trazei alguns dos peixes que apanhastes”. 11Simão Pedro subiu então ao barco e arrastou para a terra a rede, cheia de cento e cinqüenta e três peixes grandes; e apesar de serem tantos, a rede não se rompeu. 12 Disse-lhes Jesus: “Vinde comer!” Nenhum dos discípulos ousava perguntar-lhe: “Quem és tu?”, porque sabiam que era o Senhor. 13Jesus aproxima-se, toma o pão e o distribui entre eles; e faz o mesmo com o peixe. 14Foi esta a terceira vez que Jesus se manifestou aos discípulos, depois de ressuscitado dos mortos. 15Depois de comerem, Jesus disse a Simão Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes”? Ele lhe respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”. Jesus lhe disse: “Apascenta os meus cordeiros”. 16Uma segunda vez lhe disse: “Simão, filho de João, tu me amas?” — “Sim, Senhor”, disse ele, “tu sabes que te amo”. Disse-lhe Jesus: “Apascenta as minhas ovelhas”. 17Pela terceira vez disse-lhe: “Simão, filho de João, tu me amas?” Entristeceu-se Pedro porque pela terceira vez lhe perguntara “Tu me amas?” e lhe disse: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes quente amo”. Jesus lhe disse: “Apascenta as minhas ovelhas. 18Em:verdade, em verdade, te digo: quando eras jovem, tu te cingias e andavas por onde querias; quando fores velho, estenderás as mãos e outro te cingirá e te conduzirá aonde não queres”. 19Disse isso para indicar com que espécie de morte Pedro daria glória a Deus. Tendo falado assim, disse-lhe: “Segue-me”.

Fonte: Bíblia de Jerusalém

IMAGEM DE CAPA:

JESUS NA PRAIA DO LAGO TIBERÍADES

James Tissot / 1894

Museu do Brooklyn, Nova Iorque, EUA

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