
E TOMARÃO LUGAR À MESA... (Mt 8, 5-11)
OS EVANGELHOSMT 8
Desde o banquete servido por Abraão aos Três visitantes (Gn 18) até a Ceia do Cordeiro (Ap 19,9), a Sagrada Escritura sugere que Deus nos convida a sua mesa. O Povo escolhido era o convidado de honra, mas os estrangeiros – os não-povo! – acabaram ocupando os lugares que ficaram vagos...
Neste Evangelho, o centurião romano, chefe de cem soldados, está acostumado a dar ordens e vê-las cumpridas. Uma palavra e basta! Já deve estar informado sobre Jesus, o Rabi da Galileia que cura enfermos e liberta possessos. Reconhece sua autoridade sobre os males físicos e espirituais. Este reconhecimento (um tipo de fé?) o anima a rogar pelo servo doente.
Ao ver que Jesus faz menção de ir à sua casa, o romano se espanta: não precisa tanto, basta uma palavra! Afinal, um judeu que entrasse no ambiente “impuro” do estrangeiro, ficaria também ele ritualmente impuro. E o centurião tem um argumento invencível para que Jesus de Nazaré não visite seu lar, a casa de um estrangeiro, invasor e “pagão”: “Senhor, eu não sou digno!”
Como não pensar no publicano da parábola (cf. Lc 18,9ss), que sequer se aproximava do altar e, lá do fundo do Templo, olhos no chão, batia no peito e se rebaixava diante do Senhor: “Tem piedade de mim, que sou pecador”?
Não é sem motivo que nossas eucaristias começam por um ato penitencial. É, talvez, a tentativa desesperada da Igreja para nos recordar nossa condição de pecadores. Espera-se que, batendo no peito, examinando a própria consciência, nós desistamos da impropriedade de cobrar alguma coisa de Deus, ou de apresentar-lhe nossos méritos (aliás, inexistentes) ou, mesmo, reclamar asperamente do Senhor pela má qualidade dos serviços que Ele nos presta...
Como faz falta esse sentimento de indignidade! O sentimento do pródigo que volta a casa com um discurso ensaiado: “Já não sou digno de ser chamado filho... Trata-me como um dos empregados...” (Lc 15,19.) E ouve, surpreso, a resposta do Pai: “Não tem jeito, filho! Enquanto eu for Pai, tu serás meu filho!”
É assim que se descobre a verdade fundamental em nossa relação com Deus: não somos amados porque somos bons; somos amados porque somos filhos... Não é por mérito nosso. É pelo amor do Pai...
Existe uma mesa à minha espera. Nela cabem todos os estrangeiros, chamados também eles à filiação. Mas eu preciso achar um meio de abrir espaço para o irmão que também tem fome...
Orai sem cessar: “Junto ao Senhor se acha a misericórdia!” (Sl 130,7)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Leia aqui o Evangelho...
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus cap. 8, 5-11.
5 Simão respondeu: “Mestre, trabalhamos a noite inteira sem nada apanhar; mas, porque mandas, lançarei as redes”. 6 Fizeram isso e apanharam tamanha quantidade de peixes que suas redes se rompiam. 7 Fizeram então sinais aos sócios do outro barco para virem em seu auxílio. Eles vieram e encheram os dois barcos, a ponto de quase afundarem. 8 À vista disso, Simão Pedro atirou-se aos pés de Jesus, dizendo: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador!” 9 O espanto, com efeito, se apoderara dele e de todos os que estavam em sua companhia, por causa da pesca que haviam acabado de fazer; 10e também de Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram companheiros de Simão.” Jesus, porém, disse a Simão: “Não tenhas medo! Doravante serás pescador de homens”. 11 Então, reconduzindo os barcos à terra e deixando tudo, eles o seguiram.
Bíblia de Jerusalem

