
ENQUANTO ELE ORAVA... (Lc 9,28b-36)
Antonio Carlos Santini
3/15/2025
No alto da montanha, diante de Pedro, Tiago e João, Jesus se transfigura. No texto grego de São Lucas, a expressão literal é: “o aspecto de sua face tornou-se outro”. Os três apóstolos viam pela primeira vez, no Mestre que eles acotovelavam todos os dias, uma nova Face. Um novo olhar. Um novo brilho. Era uma Luz suficiente para que eles desconfiassem de que ainda não conheciam de fato o verdadeiro Jesus.
Quase sempre, distraídos pela luz incriada que o Filho irradia, ou pelo mesmo temor cegante que paralisa os apóstolos, deixamos de perceber que a “trans-figuração” ocorre em clima de oração: “Enquanto orava”, Jesus se transfigura.
Todos querem mudar sua vida para melhor. Alguns estudam e trabalham para isso, arregaçam as mangas e suam a camisa. Outros dinamitam bancos. Outros desviam verbas. Outros dão o golpe do baú. No fundo, querem mudar de vida.
Não foi assim com Inácio de Loyola, a quem Jesus se manifestou quando o ex-militar orava na gruta de Manresa. Não foi assim com os 120 do Cenáculo, que entoavam salmos quando desceu sobre eles o Fogo prometido. Não foi assim com os três pastorinhos, aos quais se manifestou a Mãe de Deus quando rezavam o terço. É sempre a oração que permite a mudança, a transfiguração, a nova face da existência.
Hoje, práticos e pragmáticos que somos, estamos tentando mudar as coisas com novas técnicas, novos métodos, novos investimentos. Mesmo no interior da Igreja, reina o pelagianismo, que atribui a salvação ao esforço e à boa vontade dos homens, aos projetos pastorais. Neste clima, a oração parece inútil, mero rito, piedosa devoção. E para muitos, alienação...
Não é isto, absolutamente, a oração do cristão: ela é o único dinamismo capaz de abrir as comportas do céu e tornar possível a inundação de Graça que nos arraste muito além de nossas possibilidades existenciais. E nós não temos o direito de esquecê-lo, pois é o próprio Jesus quem no-lo garante: “Pedi e vos será dado; procurai e encontrareis; batei e a porta vos será aberta. Pois todo aquele que pede recebe; quem procura encontra; e a quem bate, a porta será aberta”. (Lc 11,9-10)
É como se Deus nos dissesse: - “EU estou querendo mudar as coisas... mudar o mundo... Por que vocês não pedem?” E nós respondemos: - “Sim, NÓS vamos mudar o mundo. Já temos um novo tratado antiatômico... Temos novos métodos de produção... Temos uma multidão de robôs para fabricar objetos... Temos um novo banco de investimentos... Temos um invencível projeto pastoral...”
E Deus balança a cabeça, decepcionado... E Deus chora...
Orai sem cessar: “Chegue a minha oração perante a vossa Face!” (Sl 88,3)
Tradução de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Leitura do Evangelho de São Lucas, Cap. 9, 28b-36
A transfiguração —28Mais ou menos oito dias depois dessas palavras, tomandoconsigo a Pedro, João e Tiago, ele subiu à montanha para orar. 29Enquanto orava, o aspecto de seu rosto se alterou, suas vestes tornaram-se de fulgurante brancura. 30E eis que dois homens conversavam com ele: eram Moisés e Elias que, 31aparecendo envoltos em glória, falavam de sua partida que iria se consumar em Jerusalém. 32Pedro e os companheiros estavam pesados de sono. Ao despertarem, viram sua glória e os dois homens que estavam com ele. 33E quando estes iam se afastando, Pedro disse a Jesus: “Mestre, é bom estarmos aqui; façamos, pois, três tendas, uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”, mas sem saber o que dizia. 34Ainda falava, quando uma nuvem desceu e os cobriu com sua sombra; e ao entrarem eles na nuvem, os discípulos se atemorizaram. 35Da nuvem,porém, veio uma voz dizendo: “Este é o meu Filho, o Eleito; ouvi-o”. 36Ao ressoar essa voz, Jesus ficou sozinho. Os discípulos mantiveram silêncio e, naqueles dias, a ninguém contaram coisa alguma do que tinham visto.
Texto da Bíblia de Jerusalém.

