ENRAIZADOS NO CORPO MÍSTICO DE CRISTO

Nosso Terceiro Fundamento: Enraizados no Corpo Místico de Cristo

ARTIGOSA IGREJA E OS FUNDAMENTOS DA FÉAT 9

Rafael Andrade Filho

6/15/202410 min ler

errubado ao chão e cego pela luz sobrenatural, Saulo, inimigo jurado da comunidade cristã, escuta as palavras “Saulo, Saulo, por que me persegues” (At 9,4). Saulo tinha a intenção de perseguir os seguidores de Jesus, a quem via como judeus inimigos de Deus. Ele nunca conhecera Jesus e estava confiante de que o líder desse bando errante estava morto. Mas esse misterioso Cristo insistiu que Saulo estava perseguindo à ele, pessoalmente, - “Eu sou Jesus, a quem persegues” (At 9:5). Uma afirmação que só faz sentido com a condição de que Jesus se identifica com seus seguidores de uma maneira tão vívida e encarnada que, quando eles sofrem, Ele sofre.

A igreja, para usar a metáfora magnífica de São Paulo (Saulo), é o corpo de Jesus, o organismo vivo que torna presente a mente e a vontade de Cristo no mundo. É o seu amor feito carne através dos tempos. Suas mãos, pés, olhos e coração. Todos nós somos, através do batismo, membros desse corpo e, portanto, organicamente relacionados com Ele e uns aos outros. Nosso propósito é o Seu propósito - o de levar o amor misericordioso de Deus a um mundo faminto, o de ir aos lugares mais sombrios e a países mais distantes em busca de pecadores, para sermos portadores da salvação.

É somente sob a ótica do corpo místico que a igreja é entendida corretamente. Ela não é uma organização. A Igreja é um organismo. Nós somos as células, as moléculas e os órgãos em um corpo místico. O corpo místico de Cristo. Jesus vive fora do espaço tempo, criado por Ele mesmo. Ele vive na eternidade. Portanto esse corpo se estende pelo espaço - eu estou ligado a vocês pelo batismo. Estamos conectados com todos os batizados do planeta. Esse corpo também se estende pelo tempo. O Corpo Místico de Cristo se estende através dos séculos e os santos também são membros desse corpo místico. E estamos conectados a eles através da fé, da esperança e do amor nesse momento. É a comunhão dos santos.

Com isso em mente, podemos finalmente entender a Igreja como ela é. E é sob esta ótica que deveríamos ler seus documentos. É essa verdade que informa a nossa teologia sacramental, nosso ministério pastoral e a nossa evangelização.

Os Santos e a Evangelização

Hans Urs von Balthasar dizia que “os santos são os verdadeiros teólogos”. É pelos santos, esses membros do corpo místico que chegaram a uma espécie de realização, que aprendemos o que significa ser cristão e como pensar como cristão. Existe um poder surpreendente que nos vem ao forjarmos relacionamentos fortes com os santos da igreja. Não apenas como amigos em uma relação próxima, mas realmente como aliados. Aliados na missão de evangelizar.

Uma razão pela qual as histórias dos santos são tão poderosas como meios de evangelização é que elas são um testemunho vívido da fé que queremos professar. Os Santos e suas vidas podem ilustrar de maneira muito eficaz o que queremos explicar. As vezes podemos debater o dia todo com alguém, mas, em dado momento, podemos dize: “quer ver do que estou falando? Deixe-me contar a história deste santo porque você vai ver nele o que estou tentando explicar."

Imagine que você quer explicar para alguém que não está familiarizado, como é que que se joga bem o futebol. E então você fala dos princípios, das regras, das possibilidades. Depois você conta a história daquele jogador "fora de série" e mostra suas jogadas e gols. Esse jogador incorpora todos os princípios do futebol nele mesmo. Se eu quero aprender a jogar futebol, quero aprender com os profissionais.

Essa seria a analogia para os Santos. Vamos fazer apologética e teologia e vamos debater. Mas, no final das contas você sabe como é ser Santo? Eles, os Santos, são os sinais mais seguros do aspecto encarnacional do cristianismo. E nos escancaram o fato de que não somos uma religião dualista, mas sim um corpo vivo.

Aqui no Instituto Véritas, temos alguns santos em particular, nos quais realmente nos apoiamos.

Santa Teresinha de Lisieux

A primeira é a "pequena flor", Santa Teresinha de Lisieux. Ela é uma das patronas da vida missionária da igreja. E adoramos a ironia disso: a de que ela morreu aos 24 anos e nunca viajou para longe da região da casa de seus pais, na Normandia; e nem, saiu dos muros do convento onde entrou com 15 anos de idade. E, no entanto, ela é a padroeira das missões. Por que? Primeiro porque ela sentiu esse chamado para ser mártir e missionária. Depois porque ela intuiu que, por de trás de todos esses movimentos missionários, está o amor. Então, ela disse, “eu quero ser amor no coração da igreja”.

Santa Teresinha nos ensinou o que é o amor. Esta jovem que morreu aos 24 anos e que nunca saiu dos muros do convento, nos ensinou que não devemos nos preocupar em fazer grandes coisas, mas fazer pequenas coisas com muito amor. Quando fazemos isso estamos certos de que não estamos buscando a aprovação do mundo. De que não estamos jogando para um público mundano. De que não estamos jogando nada. De que estamos apenas vivendo a vida divina.

Isto significa que alguém, que pode estar agora em um leito de enfermaria, de fato não pode fazer nada em termos de atividade heroica, mas pode realizar o ato mais simples de amor que é orar por alguém. Ao fazê-lo, com muito amor, ela se prende ao poder de Deus e entra na dinâmica da vida divina. Teresinha quem nos ensinou isso!

Se nós do Instituto Véritas estamos fazendo nosso trabalho, mas não o fazemos com amor, então estamos perdendo nosso tempo. Não devemos nos preocupar em fazer grandes coisas aos olhos do mundo, mas em fazer as coisas mais simples com muito amor. É o que ela ensina. E a verdade é que quando fazemos as pequenas coisas com muito amor, de fato estamos produzindo um efeito profundamente transformador no mundo ao nosso redor. Então esse é o paradoxo, as pequenas coisas que são feitas com muito amor produzem grandes efeitos. Nossa tarefa portanto: fazer tudo com muito amor. Os efeitos do que fazemos, os deixamos nas mãos de Deus.

"Se nós do Instituto Dei Verbum estamos fazendo nosso trabalho, mas não o fazemos com amor, então estamos perdendo nosso tempo. Não devemos nos preocupar em fazer grandes coisas aos olhos do mundo, mas em fazer as coisas mais simples com muito amor"

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Santo Tomás De Aquino

Não há sacrifício da mente necessário para ser religioso. Tomás de Aquino, mais do que qualquer outra pessoa na tradição católica, corajosamente, é aquele que faz todas as perguntas possíveis e depois articula suas respostas de maneira magistral. Se Deus é a Verdade, isso significa que qualquer pergunta que busque a verdade está em busca de Deus. Portanto, não temos nada a temer! A razão não representa nenhuma ameaça para a religião, quando tanto a razão quanto a religião são autenticamente compreendidas. Foi o que Aquino conseguiu. Todos os seus escritos foram para nos colocar no caminho para Cristo, no caminho da verdade.

No final de sua vida, Tomás de Aquino estava em Nápoles, no convento de San Domenico Maggiore. Durante os últimos anos, Tomás estava trabalhando na última parte da Summa Theologiae, sua obra-prima teológica. Um dos textos dessa última parte tratava da Eucaristia, e Tomás tinha uma devoção muito especial a esse sacramento. Quando terminou de escrever, não ficou inteiramente satisfeito, e colocou o texto aos pés da cruz do Sacrário, como se pedisse aprovação. Uma voz veio da cruz. “Tomás, você escreveu bem do sacramento do meu corpo. O que você gostaria como recompensa?” E sua resposta foi: “Non Nisi Te, Domine”. “Nada além de você, Senhor”. De todo o coração, Tomás de Aquino não queria nada além de Cristo. Entender isso é a chave para entender tudo o que ele escreveu. e o Cristocentrismo, o principal fundamento deste apostolado.

Santo Tomás é aquele santo em quem devemos mais nos apoiar para nos ajudar a evangelizar os não filiados, os que se consideram “Ateus”, os cientificistas. Se queremos nos expor sem medo de responder a qualquer pergunta do mundo secular, Tomás de Aquino é aquele que ajudou a Igreja a melhor articular nossa fé, de maneira intelectual. Mas, às vezes, ficamos um pouco hesitantes em lê-lo por causa do nível de teologia com o qual ele escreveu. Mas não se preocupe, pois é um dos objetivos deste apostolado torná-lo acessível e prático para nossos amigos evangelizadores e educadores. Mas, se queremos nos se envolver com as questões do nosso tempo, não há pessoa melhor para nos ajudar a articular as respostas.

Tomás de Aquino também era um modelo de virtude. Ele viveu todas as virtudes possíveis ao máximo. Ele foi um grande santo, não apenas um grande intelectual, más também um místico da mais alta ordem, embora isso não apareça nos seus escritos porque ele queria escrever para os intelectuais da época. Quando a filosofia aristotélica foi entrando no sistema universitário, Aquino percebeu que a Igreja deveria entrar nesse “jogo” filosófico e não se esconder. E ele queria entrar neste jogo no mais alto nível, para superar os demais. Se ele tivesse continuado escrevendo como um místico, com uma veia mais monástica, poderia ter sido considerado como “pouco sério”. Então, é disso que se trata Santo Tomás de Aquino. E esse é um instinto muito bom para o nosso tempo, pois seu exemplo nos encoraja a olhar para a cultura de fora da bolha em que vive o mundo secularista e ver que a verdade pode estar dentro dela e usá-la para que mais pessoas saiam da bolha.

Quando lemos Tomás vemos a maneira como ele cita alegremente rabinos judeus, filósofos árabes, filósofos pagãos como Cícero, Aristóteles e Platão. Ele cita cristãos de todos os matizes, até mesmo alguém como Orígenes, que naquele tempo estava sob suspeita. Sua visão era a de que toda vez que alguém encontrar uma verdade, está encontrando um eco de Deus, que é a pura Verdade. Então não podemos nos esconder em alguma pequena caverna lendo apenas pessoas que estão impecavelmente certas em tudo se queremos pescar pessoas para Deus. Podemos estar nos privando de muita verdade. Aquino revela-nos esta extraordinária amplitude de mente e espírito. Outra característica marcante é como Aquino responde a seus “inimigos” intelectuais - sempre com espírito benigno, sempre lhes dando o benefício da dúvida, formulando seus argumentos melhor do eles mesmo o fariam.

Tudo isso faz de Santo Tomás um modelo para nosso apostolado. Estamos atentos às verdades que estão imersas na cultura moderna e as entendemos como ecos de Deus. Não fugimos das perguntas que buscam a verdade e estamos, corajosamente, abertos a elas e as respondemos com o nível intelectual necessário. Tratamos todos os nossos irmãos sedentos da Verdade, assim como nossos “oponentes”, com muito respeito, oferecendo-lhes a dignidade de filhos amados de Deus, sendo pacientes com os que discordam de nós, mas também marcando nosso território corajosamente. Desejamos nada mais que Cristo para nós e para nossos irmãos.

"Estamos atentos às verdades que estão imersas na cultura moderna e as entendemos como ecos de Deus. Não fugimos das perguntas que buscam a verdade e estamos, corajosamente, abertos a elas e as respondemos com o nível intelectual necessário. Tratamos todos os nossos irmãos sedentos da Verdade, assim como nossos “oponentes”, com muito respeito, oferecendo-lhes a dignidade de filhos amados de Deus, sendo pacientes com os que discordam de nós, mas também marcando nosso território corajosamente. Desejamos nada mais que Cristo para nós e para nossos irmãos."

São João Paulo II.

Carol Wojtyla foi talvez a nossa melhor visão do que realmente é um homem renascentista. Ele escrevia poesias, peças de teatro, era ator, mas também era incrivelmente adepto da filosofia e da teologia. Era um atleta. E desempenhou um papel fundamental na queda dos regimes comunistas. Um homem inacreditável em geral e incansável na sua missão. Mas acima de tudo ele era um homem de oração. O que está fundamentado em São João Paulo II é a oração. E foi assim, pela oração, que ele fez tudo isso. Ele se entregou muito cedo a Cristo em meio a um sofrimento extraordinário, talvez a maior provação do século 20 e tudo que ele realizou veio de um relacionamento vivido com Cristo.

Em nosso apostolado, João Paulo II é a visão da citação de Santo Ireneu de que “a glória de Deus é o homem plenamente vivo”. O fato de que ele apreciava todas as dinâmicas culturais que existem por aí - seja nos esportes, na poesia, nas peças de teatro, nos filmes ou na música e dizer que tudo isso tem um lugar em nossa fé católica, está correto. Havia nele leveza e abertura de espírito e uma vontade de ir, no caso dele, literalmente aos confins da terra para proclamar Cristo, sempre aberto à variedade de culturas e religiões.

Além disso, ele encarnou uma ordem e uma promessa do Evangelho que são fundamentais para nosso apostolado: a de não resistir ao mau e a de confiar que os portões do inferno não resistirão à Igreja. Essas são duas passagens do Evangelho, geralmente mal interpretadas, que precisam ser revistadas. Leia a explicação mais completa sobre elas no artigo do link abaixo.

João Paulo II ocupou um espaço moral superior contra os opressores. Ele quase foi morto pelos nazistas e depois foi profundamente oprimido e quase morto também pelos comunistas, mesmo assim ele voltou a esses lugares e disse às pessoas que estavam sob opressão “não tenham medo”, "Deixe o espírito descer e renovar a face da terra. Esta terra". Com isso ele foi decisivo na queda do comunismo. De onde veio toda essa coragem? Não veio da política, nem da psicologia ou de qualquer coisa mundana. Ela veio de uma raiz profunda em Cristo, pela oração.

O Vigor, a abertura de espírito, a corajosa não resistência ao mal, e a confiança na vitória, encarnados por São João Paulo II devem permear nosso apostolado. Sempre fundamentados, na vida de oração, no Cristocentrismo, na Eucaristia e na amizade com os Santos.

"O Vigor, a abertura de espírito, a corajosa não resistência ao mau e a confiança na vitória, encarnados por São João Paulo II devem permear nosso apostolado, fundamentados, na vida de oração, no Cristocentrismo, na eucaristia e na amizade com os Santos."

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