
GUARDAVA NO CORAÇÃO (Lc 2,41-51)
OS EVANGELHOSLC 2PR
Antonio Carlos Santini
6/28/2025
O Evangelho de hoje foi escolhido para a liturgia do Imaculado Coração de Maria. E o fato de figurar no próprio Evangelho descarta de pronto a possível pecha de sentimentalismo que os racionais usam sacar da algibeira. São Lucas não diz que Maria guardava os acontecimentos na mente ou na memória. E a antífona de entrada não se envergonha da palavra “coração”: “Meu coração exulta em Deus meu Salvador. Cantarei ao Senhor por tudo o que Ele fez por mim”.
Desde os tempos antigos, existe uma “filosofia do coração” [philosophia cordis], adotada inclusive por Santo Agostinho. Ao longo da Bíblia, o coração não é lembrado em função de reações sentimentais, mas como a síntese da vida interior do homem, aquele centro onde pulsa o dinamismo espiritual, espaço das decisões e dos afetos profundos. É ao coração do homem que Deus se dirige.
Modernamente, Pascal falou do coração humano como o “lugar” onde acontece a experiência de Deus e o conhecimento da verdade. Assim, se o ventre sagrado da Mãe de Deus acolheu o Verbo encarnado, é no seu coração que ela conserva toda a sua experiência vivida com seu Filho.
E se ainda fosse pouco, é este mesmo coração que, desde a profecia de Simeão (cf. Lc 2,35), experimenta a com-paixão em razão de seu Filho, ao ser atravessado por uma “espada” que resume toda a massa de sofrimentos inerente à sua missão de colaboradora única do Salvador.
Wolfgang Beinert comenta: “A menção do coração orienta o cristão antes de tudo para o fundamento do ser de Maria, visto de modo particular na sua sensibilidade e irradiação humana. Enquanto a solenidade da Imaculada Conceição nos faz contemplar ‘do alto’, por assim dizer, o ser de Maria envolto numa luz divina, deslumbrante, a memória de hoje revela-nos o centro de tal ser na sua capacidade e prontidão materna de amar. É evidente que o homem acha mais fácil aproximar-se desse centro humano, repleto da graça de Deus, porque lhe oferece a possibilidade de encontrar Maria ‘de coração a coração’”.
Em tempo, vale lembrar que a experiência cristã vivenciada pelos católicos é portadora, graças à presença da Mãe de Deus, de uma “feminilidade” visivelmente ausente na maioria das outras Igrejas cristãs. Por isso mesmo, esta experiência envolve a pessoa por inteiro, de modo encarnado, sem barreiras para as emoções e os sentimentos.
Orai sem cessar: “Meu coração e minha carne exultam no Deus vivo!” (Sl 84,3b)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Escute a reflexão no vídeo abaixo
Leitura do Evangelho de São Lucas, Cap. 2, 41-51
Jesus entre os doutores —41Seus pais iam todos os anos a Jerusalém para a festa daPáscoa. 42Quando o menino completou doze anos, segundo o costume, subiram para a festa. 43Terminados os dias, eles voltaram, mas o menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais o notassem. 44Pensando que ele estivesse na caravana, andaram o caminho de um dia, e puseram-se a procurá-lo entre os parentes e conhecidos. 45E não o encontrando, voltaram a Jerusalém à sua procura. 46Três dias depois, eles o encontraram no Templo, sentado em meio aos doutores, ouvindo-os e interrogando-os; 47e todos os que o ouviam ficavam extasiados com sua inteligência e com suas respostas. 48Ao vê-lo, ficaram surpresos, e sua mãe lhe disse: “Meu filho, por que agiste assim conosco? Olha que teu pai e eu, aflitos, te procurávamos”. 49Ele respondeu: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai?” 50Eles, porém, não compreenderam a palavra que ele lhes dissera.
Ainda a vida oculta em Nazaré —51Desceu então com eles para Nazaré e era-lhessubmisso. Sua mãe, porém, conservava a lembrança de todos esses fatos em seu coração.
Texto da Bíblia de Jerusalém.

