MEDITAÇÕES SOBRE A REVELAÇÃO - PARTE I
Reflexões sobre a revelação divina, a Importância das escrituras e como interpretá-las segundo instrução da Igreja. Estas reflexões compõem um estudo comentado sobre a constituição dogmática Dei Verbum sobre a revelação divina.
Rafael Andrade Filho
7/20/20253 min ler
ORGANIZANDO E ENTENDENDO O TEXTO
PREMISSA MAIOR:
Deus Pai revela-se a si e a sua vontade.
E como ele o faz?
Falando aos seres humanos como amigos, através de palavras e ações, e convivendo com eles. As ações são as obras de Deus na história da salvação e as palavras (escrituras) declaram e esclarecem essas obras, as quais, por sua vez, confirmam as palavras (escrituras). A própria encarnação é uma ação de Deus declarada e esclarecida nas escrituras. As palavras declaram a ação, e a Palavra se encarna.
Por que Ele se revela?
Para convidar os seres humanos à comunhão com Ele, ou seja, à participarem da sua natureza divina e da vida da trindade.
E como aceitamos esse convite?
Deus se revela e oferece a comunhão com Ele, para que possamos vê-lo e buscá-lo. A revelação demanda-nos uma resposta, que é a nossa busca. Deus chega perto de nós através da revelação (palavras e ações), e nós chegamos perto dele através da oração e dos sacramentos, que nos unem ao Cristo Crucificado, pois Ele é o mediador entre Deus e os homens. Em jesus está contida toda a verdade profunda sobre Deus e sobre a salvação. Jesus Cristo é a plenitude de toda a revelação.
AGORA MEDITEMOS:
Ao meditarmos sobre todas essas coisas, podemos ver que a bíblia não trata da busca do homem por Deus, mas sim da busca de Deus pelo homem. E a encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo é a ação última de Deus para revelar-se a si mesmo e para nos convidar à comunhão com Ele. "Deus se tornou homem para que o homem possa se tornar Deus" (Santo Atanásio). É isto que a tradição da Igreja chama de deificação.
Portanto o criador, criou o ser humano a partir de sua bondade e lhe deu um Télos. Télos é um termo grego antigo que significa "fim", "propósito", "meta" ou "causa final". E o Télos do ser humano é unir-se a Deus (comunhão) e participar da sua natureza divina, da vida da trindade.
Podemos nos perguntar: Por que o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus? Para que ele possa responder a Deus e atender ao seu convite de participar de sua natureza divina. Santo Tomás de Aquino dizia que o homem foi feito para um fim sobrenatural que excede suas capacidades naturais. Como esse fim é sobrenatural, a reposta à pergunta "quem é o homem?" não pode ser encontrada no mundo natural. Tanto é assim que, se perguntamos, desde um ponto de vista puramente natural, "quem é o homem?", não vamos conseguir uma resposta completa. Por exemplo, na antropologia, que é o estudo do homem, se diz que o homem é um ser religioso (que busca algo acima de si mesmo). Isto é uma resposta incompleta. Para encontrarmos a resposta à essa pergunta, teríamos que perguntar primeiro "quem se tornará o homem?".
O homem tem o seu télos, assim como uma semente tem o seu télos, que é o de ser uma árvore. O télos do homem excede suas capacidades naturais pois, o homem, ser finito e iminente, é feito para a comunhão com Deus, que é transcendente e infinito. Ele não pode realizar isto sozinho, a menos que Deus o ajude a ir além de suas capacidades naturais. É necessário, então, que Deus inicie a realização do nosso télos, dando-nos o seu sopro divino, criando-nos à sua imagem e semelhança. E depois, pela oração e pelos sacramentos que nos infundem a graça santificante e as virtudes teologais - fé, a esperança e a caridade - podemos crescer na semelhança com Deus e cumprir o fim para o qual fomos criados. É para isto que a Igreja existe [ou, pelo menos, deveria existir].
Isto também implicaria que a encarnação do verbo já fosse necessária, mesmo antes da queda do primeiro casal. Mas esta meditação ficará para outro dia.
Texto de Rafael Andrade Filho.
Seguimos com nossa leitura comentada sobre a Dei Verbum. Para ler o estudo prévio do prefácio, clique Aqui.
Leiamos agora o capítulo I, número 2:
"2. Aprouve a Deus, na sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da sua vontade (cfr. Ef. 1,9), segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina (cfr. Ef. 2,18; 2 Pd. 1,4). Em virtude desta revelação, Deus invisível (cfr. Col. 1,15; 1 Tim. 1,17), na riqueza do seu amor fala aos homens como amigos (cfr. Ex. 33, 11; Jo. 15,14-15) e convive com eles (cfr. Bar. 3,38), para os convidar e admitir à comunhão com Ele. Esta “economia” da revelação realiza-se por meio de ações e palavras intimamente relacionadas entre si, de tal maneira que as obras, realizadas por Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a doutrina e as realidades significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez, declaram as obras e esclarecem o mistério nelas contido. Porém, a verdade profunda tanto a respeito de Deus como a respeito da salvação dos homens, manifestasse-nos, por esta revelação, em Cristo, que é, simultaneamente, o mediador e a plenitude de toda a revelação (2)."