MEDITAÇÕES SOBRE A REVELAÇÃO - PARTE II
Reflexões sobre a revelação divina, a Importância das escrituras e como interpretá-las segundo instrução da Igreja. Estas reflexões compõem um estudo comentado sobre a constituição dogmática Dei Verbum sobre a revelação divina.
Rafael Andrade Filho
7/19/20254 min ler
ORGANIZANDO E ENTENDENDO O TEXTO
PREMISSA MAIOR:
O conhecimento natural de Deus é possível, mas para executar seu plano de salvação sobrenatural (deificação), Deus se Revela e conduz a humanidade pedagogicamente até a vinda do Salvador.
Não poderíamos conhecer Deus apenas observando a sua criação?
O conhecimento natural de Deus é possível, mas sozinhos não poderíamos conhecê-lo o suficiente para que pudéssemos cumprir o nosso Télos (ver Parte I). Por isto, Deus deseja comunicar ao ser humano um conhecimento maior, o que torna a Revelação Necessária. Deus primeiro se revela ao primeiro casal e, depois da queda, implementa seu plano salvífico, continuamente se revelando até a revelação máxima: a encarnação.
Como Deus conduz a humanidade depois da queda?
Deus cuida do gênero humano e continua a revelar-se de MANEIRA PEDAGÓGICA (o que podemos chamar de pedagogia divina) que ocorre de maneira acomodativa, através das suas ações na história da Salvação, dos patriarcas e dos profetas.
O que Deus ensina à humanidade na história da salvação?
Deus ensina ao seu povo à reconhecerem-no como único Deus vivo e verdadeiro. Ensina que Ele é um Pai providente e Justo e que deviam esperar a vinda do Salvador.
AGORA MEDITEMOS:
A Dei Verbum, nessa introdução, nos dá um panorama do que chamamos de História da Salvação. Se inicia com os primeiros pais e continua após a sua queda, segue com Abraão, os patriarca, Moisés, os profetas e finalmente com a encarnação, paixão, morte e ressurreição de Nosso Amado Senhor Jesus Cristo.
Deus quer se participemos da sua natureza divina, da visa da trindade, pois foi para isto que Ele nos criou. Toda a revelação tem por objetivo possibilitar que possamos cumprir essa finalidade. A revelação culmina com Encarnação, necessária para que a Palavra de Deus venha fazer a mediação entre o Deus Transcendente e infinito e a sua criatura iminente e finita. Não se trata apenas de uma mediação de conhecimento, mas principalmente da mediação da natureza divina para a natureza humana. Trata-se da natureza divina mesma "entrando" na criatura mortal para que a natureza humana possa participar da natureza divina. Notemos, portanto, que a Dei Verbum corrobora a afirmação de Santo Atanásio, de que Deus se Tornou Homem para que o Homem pudesse se tornar Deus - (chamada no texto de "Salvação Sobrenatural").
Notavelmente, a Dei Verbum ainda corrobora a visão de Santo Irineu de que a encarnação sempre foi o plano original mesmo antes da queda: "...decidindo abrir o caminho da salvação sobrenatural, manifestou-se a Si mesmo, desde o princípio, aos nossos primeiros pais". Ora, se a Salvação Sobrenatural sempre foi o Plano A desde a criação do homem, o plano não mudou mesmo após a queda. A partir da queda Deus "promete a redenção", que é cumprida com a vitória de Jesus Cristo sobre o diabo, o pecado e a morte; e com a nossa participação nesta vitória.
Santo Irineu escreve: "Deus tendo predestinado que o primeiro homem deveria ser de natureza animal, com este objetivo, para que ele pudesse ser salvo pelo Ser espiritual. Pois, visto que Ele tinha uma preexistência como um Ser salvador, era necessário que o que poderia ser salvo também fosse chamado à existência, a fim de que o Ser que salva não existisse em vão".
Ora, É muito importante que saibamos a história de amor que estamos vivendo! A História de amor de Deus por nós. Sem tomarmos consciência disso, é difícil entender o que estamos fazendo na Igreja, uma vez que a Igreja existe para nos convidar a aceitar esse amor e a correspondê-lo. Qualquer outro motivo pelo qual estamos na igreja torna-se secundário.
Conhecer esta história de amor - a história da salvação - é conhecer o todo e ela nos permite entender a revelação que Deus nos dá nas escrituras. Conhecendo o todo, podemos ir para os detalhes. Por exemplo, quando Santo Atanásio, em sua argumentação contra os arianos, disse que aquele pessoal não conhecia as Escrituras, ele não estava dizendo que eles não conheciam seus versos, mas que não conheciam a história da salvação. A questão não é como se conjuga um verbo em grego; a questão é: quem é que me salva? Se você ler a Bíblia, você saberá que é Deus quem salva, e Jesus é Deus. Portanto, temos que entender que o arco da narrativa da Escritura, como ensinado pela tradição, é o que nos forma para sermos capazes de ler passagens individuais adequadamente e discuti-las. Se nós não temos este entendimento, passamos a especular todo tipo de coisas estranhas e podemos acabar como um gnósticos hereges (coisa bem comum hoje em dia).
Aqui em nosso site temos um curso chamado: A HISTÓRIA DA SALVAÇÃO. O objetivo deste curso é dar um senso robusto da história comum, o todo, assim como também aprofundar-se em certos pontos que são pontos de inflexão dentro da história. Há, portanto, um tipo de círculo hermenêutico virtuoso: o todo esclarece o ponto, e o ponto esclarece o todo. Acesse o Curso clicando aqui.
Em Seguida passamos a meditar sobe o parágrafo 7 da Dei Verbum.
Texto de Rafael Andrade Filho.
Seguimos com nossa leitura comentada sobre a Dei Verbum. Para ler o estudo prévio do prefácio, clique Aqui.
Leiamos agora o capítulo I, número 3:
"3. Deus, criando e conservando todas as coisas pelo Verbo (cfr. Jo. 1,3), oferece aos homens um testemunho perene de Si mesmo na criação (cfr. Rom. 1, 1-20) e, além disso, decidindo abrir o caminho da salvação sobrenatural, manifestou-se a Si mesmo, desde o princípio, aos nossos primeiros pais. Depois da sua queda, com a promessa de redenção, deu-lhes a esperança da salvação (cfr. Gén. 3,15), e cuidou contìnuamente do género humano, para dar a vida eterna a todos aqueles que, perseverando na prática das boas obras, procuram a salvação (cfr. Rom. 2, 6-7). No devido tempo chamou Abraão, para fazer dele pai dum grande povo (cfr. Gén. 12,2), povo que, depois dos patriarcas, ele instruiu, por meio de Moisés e dos profetas, para que o reconhecessem como único Deus vivo e verdadeiro, pai providente e juiz justo, e para que esperassem o Salvador prometido; assim preparou Deus através dos tempos o caminho ao Evangelho.
4. Depois de ter falado muitas vezes e de muitos modos pelos profetas, falou-nos Deus nestes nossos dias, que são os últimos, através de Seu Filho (Heb. 1, 1-2)."