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MEDITAÇÕES SOBRE A REVELAÇÃO - PARTE III

Reflexões sobre a revelação divina, a Importância das escrituras e como interpretá-las segundo instrução da Igreja. Estas reflexões compõem um estudo comentado sobre a constituição dogmática Dei Verbum sobre a revelação divina.

Rafael Andrade Filho

7/17/20254 min ler

ORGANIZANDO E ENTENDENDO O TEXTO

PREMISSA MAIOR:

As escrituras atestam a necessidade e o valor da Tradição. A Tradição e as Escrituras caminham juntas.

O que é a tradição da Igreja?

A tradição da igreja é este "passar adiante" a revelação divina, de uma geração para outra. A Dei Verbum faz aqui uma reflexão de como a Igreja historicamente começou, como retratado no próprio Novo Testamento, no qual vemos que a transmissão da revelação divina se deu pela tradição da Igreja. Ou seja, na Dei Verbum a Igreja está apenas contando a história da Igreja inicial, como apresentada nas próprias Escrituras.

Como Deus quis que fosse transmitida sua revelação, para a salvação dos povos?

Deus se revelou, Cristo veio consumar a revelação e Ele mesmo incumbiu os apóstolos de pregarem o evangelho que Ele promulgou com seus próprios lábios. E, para isto, deu aos apóstolos dons celestiais. Esta incumbência foi fielmente realizada pelos apóstolos, que transmitiram o que receberam dos lábios de Cristo, da convivência com Ele e do aprendizado com o Espírito Santo. Esta incumbência também foi realizada por aqueles que, sob a inspiração do Espírito Santo, passaram adiante a mensagem por escrito (Novo Testamento).

AGORA MEDITEMOS:

Aqui neste parágrafo temos um relato da necessidade da tradição da Igreja para a transmissão da revelação divina. A Dei verbum está apenas recontando a história da Escritura, de como nasceu a Escritura: da tradição da Igreja, como contada na própria Escritura.

A Sola Scriptura diz que as Escrituras são o único árbitro da teologia. Mas o que as Escrituras nos dizem? As Escrituras nos contam a sua própria história. E nessa história, vemos que a tradição faz parte do que ensina a Escritura o tempo todo. De fato, a Escritura mesma é parte da tradição. Os apóstolos tomaram os ensinamentos e os feitos de Jesus, e eles transmitiram para nós pela fundação da Igreja. Então, eles escreveram as Escrituras para informar as Igrejas que eles haviam estabelecido.

Portanto, A Escritura mesma atesta a tradição da Igreja. De fato, a Escritura mesma não define o cânon da Escritura; a Igreja é que fez isso. A Escritura também não diz nada sobre ser ela o único árbitro da revelação. A escritura diz "continuem fazendo o que nós fomos incumbidos de fazer.

Quem disse para mim que a Bíblia é a Palavra de Deus? Resposta: meu pai e minha mãe. E então eles me levaram para uma comunidade, e também lá me disseram que a Bíblia é a Palavra de Deus. Então, eu mesmo, com a ajuda do Espírito Santo, confirmei para mim que a bíblia é a Palavra de Deus. Portanto, se refletimos nossa própria biografia, vamos perceber que recebemos a Bíblia pela tradição como um presente da Igreja. Na Dei Verbum, a Igreja está refletindo sobre sua própria biografia.

Aquilo em que acreditamos está fundamentalmente guiado pela tradição na Escritura. Porque eu acredito na Trindade? Não foi porque me sentei, meditei bastante sobre João, capítulos 15 a 17. Eu primeiro acreditei na trindade por causa da Igreja e depois fui ler João capítulos 15 a 17 e confirmei o que a tradição da Igreja me disse.

É claro que a Igreja usa a Escritura. Há uma complementariedade. O magistério da Igreja ensina e nos dá o presente que é a Escritura. Portanto, a Sola Scriptura é incoerente com a história da Igreja, como contando na própria escritura, e com a nossa própria história. Qualquer pessoa de bom senso reconhecerá a necessidade da tradição.


Os apóstolos nomearam bispos como sucessores, passando para eles a autoridade de ensinar em seu lugar, pela tradição. Historicamente, sempre houve bispos até o século XVI, quando ficamos sem bispos e tivemos que reinventar a eclesiologia. O Novo Testamento usa o termo "bispo". Santo Inácio de Antioquia dizia: "Onde está o bispo, está a Igreja". Santo Irineu aponta para sua sucessão apostólica, dizendo: "Eu conheci Policarpo, e Policarpo sentou-se aos pés de João". Historicamente, foi desta maneira que Deus quis fazer. Ele poderia ter feito de outra maneira, mas fez desse jeito. Os bispos foram os que nos deram as Escrituras, os ensinamentos da Trindade, da união hipoestática, etc.


Por outro lado, os apóstolos e seus sucessores também escreveram as Escrituras para informar a Igreja que fundaram. Portanto, tradição e Escritura caminham juntas. A Escritura precisa da tradição porque nós só recebemos a Escritura através da tradição, mas a tradição também necessita ser confirmada pela Escritura.

Texto de Rafael Andrade Filho.

Seguimos com nossa leitura comentada sobre a Dei Verbum. Para ler o estudo prévio do prefácio, clique Aqui.

Leiamos agora o capítulo II, número 7:

"Os apóstolos e seus sucessores, transmissores do Evangelho

7. Deus dispôs amorosamente que permanecesse integro e fosse transmitido a todas as gerações tudo quanto tinha revelado para salvação de todos os povos. Por isso, Cristo Senhor, em quem toda a revelação do Deus altíssimo se consuma (cfr. 2 Cor. 1,20; 3,16-4,6), mandou aos Apóstolos que pregassem a todos, como fonte de toda a verdade salutar e de toda a disciplina de costumes, o Evangelho prometido antes pelos profetas e por Ele cumprido e promulgado pessoalmente (1), comunicando-lhes assim os dons divinos. Isto foi realizado com fidelidade, tanto pelos Apóstolos que, na sua pregação oral, exemplos e instituições, transmitiram aquilo que tinham recebido dos lábios, trato e obras de Cristo, e o que tinham aprendido por inspiração do Espírito Santo, como por aqueles Apóstolos e varões apostólicos que, sob a inspiração do mesmo Espírito Santo, escreveram a mensagem da salvação (2).

Porém, para que o Evangelho fosse perenemente conservado integro e vivo na Igreja, os Apóstolos deixaram os Bispos como seus sucessores, «entregando lhes o seu próprio ofício de magistério» (3). Portanto, esta sagrada Tradição e a Sagrada Escritura dos dois Testamentos são como um espelho no qual a Igreja peregrina na terra contempla a Deus, de quem tudo recebe, até ser conduzida a vê-lo face a face tal qual Ele é (cfr. 1 Jo. 3,2)."