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MEDITAÇÕES SOBRE A REVELAÇÃO - PARTE V

Reflexões sobre a revelação divina, a Importância das escrituras e como interpretá-las segundo instrução da Igreja. Estas reflexões compõem um estudo comentado sobre a constituição dogmática Dei Verbum sobre a revelação divina.

Rafael Andrade Filho

7/15/20253 min ler

ORGANIZANDO E ENTENDENDO O TEXTO

PREMISSA MAIOR:

As sagradas escrituras e a tradição apostólica têm a mesma origem e Deus confiou sua interpretação à Igreja, sob a ação do Espírito Santo.

AGORA MEDITEMOS:

Foi a mesma e única Palavra de Deus que começou a tradição com os apóstolos e também nos deu as escrituras. A tradição e a Palavra caminham juntas, necessariamente. E, necessariamente, portanto, a tarefa de interpretar autenticamente a Palavra de Deus, seja ela escrita ou transmitida, foi confiada ao ofício vivo de ensinar da Igreja. Este ensinamento não está acima das Escrituras, mas serve à elas, ensinando somente aquilo que foi transmitido. Por isso, o prefácio da Dei Verbum é importante, pois nele a Igreja deixa claro que são as Escrituras quem estabelecem as diretrizes.

Portanto, todas as Escrituras foram divinamente inspiradas (cfr. 2Tm 3, 16-17). Então, o foco tem que ser no que Deus está ensinando numa determinada passagem, e não no fato histórico. Por exemplo, se lermos as Sagradas Escrituras no gênero errado, poderemos sair afirmando que há inacurações científicas no Antigo Testamento. Por exemplo: "Deus colocou a Terra sobre seus pilares". Isto seria um absurdo se tomado literalmente. Mas, naqueles gêneros e nas convenções literárias da época, Deus está estabelecendo aquelas verdades que Ele quis estabelecer para o bem da nossa salvação.

Não devemos, portanto, nos importa muito se Deus estava preocupado em me dizer por quanto tempo Débora foi juíza de Israel, mas é importante o que Deus está ensinando sobre a natureza do próprio Deus, a natureza do pecado, da humanidade e a necessidade dos humanos para a salvação naquele livro dos Juízes, porque estas são as questões para as quais o livro dos Juízes foi escrito para responder. Também trata-se de um livro histórico, mas está de acordo com as convenções da historiografia hebraica para propósito da Acomodação de Deus aos humanos (ver Parte II desta série), que usa tais convenções para revelar as verdades necessárias para a nossa salvação.

Texto de Rafael Andrade Filho.

Seguimos com nossa leitura comentada sobre a Dei Verbum. Para ler o estudo prévio, clique Aqui.

Leiamos agora o capítulo II, número 9 e o capítulo III, número 11:

Relação entre a sagrada Tradição e a Sagrada Escritura

9. A sagrada Tradição, portanto, e a Sagrada Escritura estão intimamente unidas e compenetradas entre si. Com efeito, derivando ambas da mesma fonte divina, fazem como que uma coisa só e tendem ao mesmo fim. A Sagrada Escritura é a palavra de Deus enquanto foi escrita por inspiração do Espírito Santo; a sagrada Tradição, por sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos Apóstolos a palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos, para que eles, com a luz do Espírito de verdade, a conservem, a exponham e a difundam fielmente na sua pregação; donde resulta assim que a Igreja não tira só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas. Por isso, ambas devem ser recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e reverência.

CAPÍTULO III

A INSPIRAÇÃO DIVINA DA SAGRADA ESCRITURAE A SUA INTERPRETAÇÃO
Natureza da inspiração e verdade da Sagrada Escritura

11. As coisas reveladas por Deus, contidas e manifestadas na Sagrada Escritura, foram escritas por inspiração do Espírito Santo. Com efeito, a santa mãe Igreja, segundo a fé apostólica, considera como santos e canónicos os livros inteiros do Antigo e do Novo Testamento com todas as suas partes, porque, escritos por inspiração do Espírito Santo (cfr. Jo. 20,31; 2 Tim. 3,16; 2 Ped. 1, 19-21; 3, 15-16), têm Deus por autor, e como tais foram confiados à própria Igreja. Todavia, para escrever os livros sagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens na posse das suas faculdades e capacidades, para que, agindo Ele neles e por eles, pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria.

E assim, como tudo quanto afirmam os autores inspirados ou hagiógrafos deve ser tido como afirmado pelo Espírito Santo, por isso mesmo se deve acreditar que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro a verdade que Deus, para nossa salvação, quis que fosse consignada nas sagradas Letras (5). Por isso, «toda a Escritura é divinamente inspirada e útil para ensinar, para corrigir, para instruir na justiça: para que o homem de Deus seja perfeito, experimentado em todas as obras boas» ( Tim. 3, 7-17 gr.).