MEDITAÇÕES SOBRE A REVELAÇÃO - PARTE VIII
Reflexões sobre a revelação divina, a Importância das escrituras e como interpretá-las segundo instrução da Igreja. Estas reflexões compõem um estudo comentado sobre a constituição dogmática Dei Verbum sobre a revelação divina.
Rafael Andrade Filho
7/12/20253 min ler
ORGANIZANDO E ENTENDENDO O TEXTO
PREMISSA MAIOR:
O Antigo Testamento (AT) destina-se a preparar a humanidade para o adento de Cristo, através de figuras (tipos) que encontramos no Novo Testamento. Ademais, o AT, embora contendo imperfeições transitórias, é uma fonte rica de ensinamentos sobre Deus e sobre a humanidade ainda nos revela a pedagogia divina.
O QUE SÃO TIPOS?
Dentro do Antigo Testamento, há esses "tipos" que prefiguram e anunciam o advento de Cristo e da Nova aliança. Por exemplo, o Batismo é prefigurado pela travessia do Mar Vermelho pelos hebreus, fugindo da escravidão do pecado e renascendo pelas aguas para o reino de Deus. Jesus.
AGORA MEDITEMOS:
O AT só pode ser entendido plenamente se lido à luz do Novo Testamento, que nos dá as lentes hermenêuticas necessárias para entende-lo. É o Novo Testamento nos dá a chave para renovar o olhar sobre o Antigo Testamento, assim como para entender a sua pedagogia e acomodação de Deus à humanidade. O próprio Senhor Jesus nos revela um exemplo explícito de acomodação de Deus no Antigo Testamento ao dizer que "Deus permitiu o divórcio devido à dureza dos vossos corações" (Mt 19,8). Quando se diz que Deus é justo e misericordioso, está se dizendo que Ele é pedagógico e acomodativo.
Quando a Dei Verbum diz que o AT contém ´— como por exemplo permitindo a escravidão. Mas estas mesmas imperfeições se devem à pedagogia divina e a testam. É como se Deus dissesse: "Vocês querem ter escravidão? Vamos então estabelecer algumas regras básicas para diminuir o problema agora, para ser menos desumano, de uma maneira que nós possamos colocar vocês na trajetória de terminar isso de uma vez por todas". O mesmo exemplo se aplica ao divórcio assim como quando Abraão indaga a Deus de como ele poderia ter certeza de que Deus estava fazendo uma aliança com ele, e O Senhor "compassivo e bondoso; tardio em irar-se e rico em bondade" diz a Abraão que faça um sacrifício nos termos das alianças humanas da época para se acomodar à Abraão (cfr. Gn 15, 7-20). Isto é uma pedagogia que é acomodativa. Mesmo com esses problemas, a Escritura nos mostra a verdadeira pedagogia divina.
A "Dei Verbum", explica que o Antigo Testamento contém imperfeições transitórias, está se referindo à práticas e leis que hoje consideramos imperfeições, como a escravidão. No entanto, essas características refletem como Deus é paciente e usa sua pedagogia divina para se acomodar ao povo em sua jornada. É como se Deus estivesse dizendo: "Vocês desejam manter a escravidão? Então, vamos estabelecer regras básicas para torná-la menos desumana e colocá-los no caminho para superá-la completamente no futuro".
Esse raciocínio se aplica também ao divórcio e aos sacrifícios animais. Quando Abraão questiona Deus sobre como poderia ter certeza de que herdaria aquela terra, Deus, "compassivo e bondoso; tardio em irar-se e rico em bondade", instrui Abraão a fazer um sacrifício nos termos das alianças humanas da época (ver Gn 15, 7-20). Isso demonstra uma abordagem pedagógica divina, acomodando-se às limitações humanas. Apesar dessas aparentes imperfeições, as Escrituras mostram o progresso da revelação divina ao longo do tempo, guiando a humanidade a uma compreensão mais profunda e ética, que culmina nos ensinamentos de amor e justiça do Novo Testamento. Ainda assim, vale ressaltar que nós não somos salvos pelo Novo Testamento; nós somos salvos por Jesus Cristo e por aquilo que ele fez. O Novo Testamento nos atesta isto.
Texto de Rafael Andrade Filho.
Seguimos com nossa leitura comentada sobre a Dei Verbum. Para ler o estudo prévio, clique Aqui.
Leiamos agora o capítulo IV, número 15:
O ANTIGO TESTAMENTO
Importância do Antigo Testamento para os cristãos
15. A "economia" do Antigo Testamento destinava-se sobretudo a preparar, a anunciar profeticamente (cfr. Lc. 24,44; Jo. 5,39; 1 Ped. 1,10) e a simbolizar com várias figuras (cfr. 1 Cor. 10,11) o advento de Cristo, redentor universal, e o do reino messiânico. Mas os livros do Antigo Testamento, segundo a condição do género humano antes do tempo da salvação estabelecida por Cristo, manifestam a todos o conhecimento de Deus e do homem, e o modo com que Deus justo e misericordioso trata os homens. Tais livros, apesar de conterem também coisas imperfeitas e transitórias, revelam, contudo, a verdadeira pedagogia divina. Por isso, os fieis devem receber com devoção estes livros que exprimem o vivo sentido de Deus, nos quais se encontram sublimes doutrinas a respeito de Deus, uma sabedoria salutar a respeito da vida humana, bem como admiráveis tesouros de preces, nos quais, finalmente, está latente o mistério da nossa salvação.