
NINGUÉM TE CONDENOU? (Jo 8, 1-11)
Antonio Carlos Santini
4/6/2025
Apanhada em flagrante adultério, uma jovem noiva [se já fosse mulher casada, seria condenada à forca, conforme o Sifrei 361 dos rabinos judaicos] é arrastada aos pés de Jesus por um grupo de escribas e fariseus que pretendem puni-la com a lapidação, conforme estava previsto na lei mosaica. Uma frágil pomba cercada de falcões sanguinários. Apontam para ela o dedo indicador da mão direita em um gesto de acusação... Ela deve pagar o pecado com a morte!
Na verdade, afirma João, tratava-se de um pretexto para deixar Jesus em má situação. Era como se dissessem: - “Vamos ver como sai dessa o tal rabi da Galileia, que tanto fala em misericórdia... Se ele concorda com o apedrejamento, desmente tudo que já ensinou. Se ele se posiciona a favor da adúltera, podemos acusá-lo de rejeitar a Lei”. Assim, depois de citar os preceitos que mandavam apedrejar a infratora (cf. Lv 20, 10; Dt 22, 23), espremem Jesus contra a parede: - “E tu, que dizes?”
Mas eles mentiam, de certa forma, pois a Lei mandava aplicar a dura pena não somente contra a mulher, mas também contra o parceiro de adultério. E Jesus se cala, se inclina e começa a escrever com o mesmo dedo da mão direita na areia fina do pátio do Templo. Ali, era exatamente a Terra de Moriá, onde Isaac tinha sido poupado da morte (Gn 22). Não era lugar de condenação...
E o contraste é ainda mais agudo quando se leva em conta que a Lei invocada pelos acusadores havia sido gravada na pedra do Sinai, de modo indelével, e transmitida a Moisés nos ásperos tempos da Velha Aliança. Desta vez, já em clima da Nova e Eterna Aliança, é sobre a areia fina que Jesus escreve. Areia que um leve sopro de vento desmancha, a-pagando os crimes e os castigos. Areias de misericórdia...
Como os acusadores insistem em obter uma resposta, Jesus, ainda inclinado, manda que a primeira pedra seja atirada por algum dos acusadores que esteja sem pecado. Depois de rápido exame de consciência, a começar pelos mais velhos – exatamente os que tiveram mais tempo para pecar -, eles se vão retirando um a um, deixando a sós Jesus e a pecadora. O Mestre estende agora – só agora – o dedo indicador para ela e pergunta: “Ninguém te condenou?” Ela murmura: “Ninguém...”
“Nem eu te condeno” - diz Jesus. “Vai e não tornes a pecar!” Aquele mesmo Juiz que detesta radicalmente o pecado sempre terá infinitas reservas de amor pelos pecadores, pois Deus é amor...
Em tempo de vinganças e clamores populares, chegaremos a compreender a misericórdia divina?
Orai sem cessar: “Meu Deus enviou seu anjo e fechou a boca dos leões!” (Dn 6, 23)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Leitura do Evangelho de São João, Cap. 8, 1-11.
A mulher adúltera — 1Jesus foi para o monte das Oliveiras. 2Antes do nascer do sol, já se achava outra vez no Templo. Todo o povo vinha a ele e, sentando-se, os ensinava. 3 Os escribas e os fariseus trazem, então, uma mulher surpreendida em adultério e, colocando-a no meio, dizem-lhe: 4 “Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante delito de adultério. 5 Na Lei, Moisés nos ordena apedrejar tais mulheres. Tu, pois, que dizes?” 6 Eles assim diziam para pô-lo à prova, a fim de terem matéria para acusá-lo. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo. 7 Como persistissem em interrogá-lo, ergueu-se e lhes disse: “Quem dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra!” 8 Inclinando-se de novo, escrevia na terra. 9 Eles, porém, ouvindo isso, saíram um após outro, a começar pelos mais velhos. Ele ficou sozinho e a mulher permanecia lá, no meio. 10 Então, erguendo-se, Jesus lhe disse: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?” 11 Disse ela: “Ninguém, Senhor”. Disse, então, Jesus: “Nem eu te condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais”.
Palavra da Salvação.
Fonte: Bíblia de Jerusalém
JESUS E A PECADORA
Andrey Miranov / 2011
Técnica Óleo sobre tela
Coleção Privada, Russia

