O ESPÍRITO SOPRA ONDE QUER (Jo 3, 7b-15)
Antonio Carlos Santini
4/29/2025
Um diálogo noturno. O mestre fariseu entrevê umas fagulhas de luz nas palavras e nos gestos do Filho do carpinteiro. Já é a graça de Deus trabalhando em seu coração. Por isso ele procura por Jesus. Por que à noite? Talvez para ter intimidade... para não ser interrompido... talvez por que as trevas não podem envolver a Luz...
Nicodemos já não consegue negar que na pessoa de Jesus de Nazaré pulsa uma força que ultrapassa infinitamente os limites humanos. Nada que ele possa “explicar”, nada que consiga reduzir a alguma proposição lógica, mas nem por isso pode ser sufocada nos porões de sua consciência.
E o mestre em Israel vai ouvir de Jesus uma frase que anula qualquer arrazoado humano: “O Espírito sopra onde quer, e tu ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem e para onde vai”.
Nicodemos talvez devesse contentar-se apenas com um pormenor: “Não sabes”. A limitada razão humana não pode conter o Espírito de Deus. Não pode explicá-lo. Sem a iluminação gratuita fornecida por Deus, o homem é incapaz de penetrar os mistérios da vida divina que lhe é oferecida.
O fariseu Nicodemos e todos os teólogos que viriam depois dele precisam urgentemente acolher a lição de Joseph Ratzinger: “Graças a um amor acumulado, graças a um encontro feliz, o homem experimenta um dom superior que por si mesmo não saberia suscitar nem criar; compreender que, nesse encontro, recebe muito mais do que poderiam dar os dois juntos. Na luminosidade e na alegria de tal encontro, ele entrevê a proximidade da alegria absoluta e do encontro absoluto que corresponde a todo encontro humano”.
É assim que o bom Nicodemos já não pode negar – afirma Louis Bouyer – o caráter sobrenatural de Jesus: ele se impõe a nós por seus efeitos, mas nosso esforço por explicá-lo permanecerá sempre ineficaz. É que não se pode domar o Vento, nem o desviar de seu rumo. O Vento vem a nós exatamente para que nós nos abandonemos ao seu dinamismo. Como o navegante abre suas velas ao sopro do vento, o homem é chamado a deixar-se dirigir pelo Espírito de Deus.
Claro, isto tem um preço. Certamente nós teremos de morrer para nosso homem velho, abrir mão de nossos preconceitos, despir-nos de velhas armaduras, tornar-nos frágeis, dóceis, humildes... De Paulo de Tarso a Agostinho de Hipona, de Francisco de Assis a Teresa de Calcutá, sempre existe uma morte que prepara para a vida nova. Como diz Jesus, é preciso nascer de novo...
Orai sem cessar: “Não me prives, Senhor, de teu santo Espírito!” (Sl 51,13)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Leitura do Evangelho de São João 3, 7-15.
7Não te admires de eu te haver dito: deveis nascer do alto. 8O vento sopra onde quer e ouves o seu ruído, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito”. 9Perguntou-lhe Nicodemos: “Como isso pode acontecer?” 10Respondeu-lhe Jesus: “És o mestre de Israel e ignoras essas coisas? “Em verdade, em verdade, te digo: falamos do que sabemos e damos testemunho do que vimos, porém não acolheis o nosso testemunho. 12Se não credes quando vos falo das coisas da terra, como ireis crer quando vos falar das coisas do céu?13Ninguém subiu ao céu? a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem. 14Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que seja levantado o Filho do Homem, 15a fim de que todo aquele que crer tenha nele vida eterna.
Fonte: Bíblia de Jerusalém

