
O FOGO INEXTINGUÍVEL... (Mc 9,41-50)
OS EVANGELHOSMC 9
Antonio Carlos Santini
2/27/20253 min ler
Não está na moda falar no inferno. A onda racionalista nega a existência do demônio e, após duas guerras mundiais, duas bombas atômicas e a ameaça de uma conflagração planetária, chega a dizer que “o inferno é aqui mesmo”.
Mas não foi isso que Jesus ensinou. Em várias passagens do Evangelho, Jesus fala da possibilidade (terrível!) de se viver uma eternidade afastado de Deus. Imediatamente após a morte, passamos por um julgamento ou juízo particular (cf. Hb 9, 27), onde se define irrevogavelmente o nosso destino. Jesus usou de muitas imagens para transmitir a visão desta realidade espiritual, entre elas a separação entre cordeiros e cabritos, ao final do dia, como os pastores costumavam fazer na Palestina (cf. Mt 25, 31ss.).
No Evangelho de hoje, Jesus recorreu à imagem da Geena com seu fogo inextinguível. A Bíblia de Navarra comenta em nota: “Geena ou Ge-hinnom era um pequeno vale ao sul de Jerusalém, fora das muralhas e mais baixo do que a cidade. Durante séculos esse lugar foi utilizado para depositar o lixo da povoação. Habitualmente esse lixo era queimado para evitar o foco de infecção que constituía e a acumulação do mesmo. Era proverbial como lugar imundo e doentio. Nosso Senhor serve-se desse fato conhecido para explicar, de modo gráfico, o fogo inextinguível do inferno.”
Esse mesmo vale fora local de cultos idólatras, visto como lugar maldito. Além disso, era comum que o lixo ali acumulado, em clima quente e seco, entrasse em combustão espontânea. Talvez houvesse algum fogo permanente em sua vegetação semelhante à turfa. Imagens, apenas, mas falam aos nossos sentidos humanos sobre uma realidade que ninguém imaginaria com realismo.
Claro que o inferno não pode ser um “lugar”, um espaço na topografia, em sentido meramente material. O “Catecismo” o apresenta como um “estado”, uma forma de existir. Eis sua lição – uma lição que devemos levar a sério: “Não podemos estar unidos a Deus se não fizermos livremente a opção de amá-lo. Mas não podemos amar a Deus se pecamos gravemente contra Ele, contra nosso próximo ou contra nós mesmos. [...] Morrer em pecado mortal sem ter-se arrependido dele e sem acolher o amor misericordioso de Deus significa estar separado do Todo-Poderoso para sempre, por nossa própria opção livre. E é este estado de autoexclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados que se designa com a palavra “inferno”. (Nº 1033.)
Sem fogueiras, sem tridentes. Mas, acima de tudo, inferno sem amor...
Orai sem cessar: “Amo-te com amor eterno.” (Jr 31,3)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Leitura do Evangelho de São Marcos, Cap. 9, 41-50
Caridade para com os discípulos —41 De fato, quem vos der a beber um copo d’água por serdes de Cristo, em verdade vos digo não perderá a sua recompensa.
O escândalo —42 Se alguém escandalizar um destes pequeninos que crêem, melhor seria que lhe prendessem ao pescoço a mó que os jumentos movem e o atirassem ao mar. 43 E se tua mão te escandalizar, corta-a: melhor é entrares mutilado par a Vida do que, tendo as duas mãos, ires para a geena, para o fogo inextinguível. [44] 47 E se teu olho te escandalizar, arranca-o: melhor é entrardes com um só olho no Reino de Deus do que, tendo os dois olhos, seres atirado na geena, 48onde o verme não morre e onde o fogo não se extingue.49 Pois todos serão salgados com fogo.50 O sal é bom. Mas se o sal se tornar insípido, como retemperá-lo? Tende sal em vós mesmos e vivei em paz uns com os outros.”
Texto da Bíblia de Jerusalém.
"Se tua mão te escandalizar: corta-a..."
ESTUDO DE UMA MÃO
Amalia Lindegren/ sec. XIX / Suécia
Museu Nacional de Belas Artes, Estocolmo, Suécia

