
O MUNDO NÃO TE CONHECEU... (Jo 17,20-26)
Antonio Carlos Santini
6/5/2025
Desde a Criação até a Encarnação do Verbo, correram milhões de anos. Desde o primeiro grupo humano até o nascimento do Menino de Belém, milhares de gerações calcaram a poeira. E todo este tempo, o Pai permanecia desconhecido... Claro, alguém terá intuído a necessidade de um Criador, uma Inteligência por trás da extrema complexidade dos sóis e dos trigais, Aquele que estabeleceu as leis de toda a natureza. Mas não conheceram o Pai.
Algumas tribos foram vergadas pelo medo e sentiram necessidade de sacrificar animais às divindades e aos orixás, em sangrentos ritos animistas que deveriam amansá-los e mantê-los à distância. Mas não conheceram o Pai.
Quando os espanhóis do Séc. XV atravessaram o Atlântico e chegaram à América Central, encontraram ali as pirâmides escalonadas, cujos degraus estavam recobertos pelos crânios de jovens cruamente sacrificados ao cruel deus Xipe-Totec. E não conheceram o Pai.
Enfim, Deus acabou por escolher um povo e a ele se revelou, fazendo aliança com Abraão. Esse povo cultuou o único Deus, mas o viu apenas como o Altíssimo, o Senhor dos Exércitos, o vencedor dos ídolos, entre nuvens e trovões no Monte Sinai. Mas ainda não conheceu o Pai...
Foi preciso que o próprio Filho, ao se encarnar, nascendo de Mulher, viesse revelar-nos a verdadeira face de Deus. E quando lhe pediram um modelo de oração, o Filho ensinou: “Quando orardes, dizei assim: ‘Pai nosso’...
Estamos diante de absoluta novidade. O Deus Criador e fonte da vida não é apenas um Ser poderoso, mas Pai amoroso. Não é apenas transcendente, fora de nosso alcance, mas se faz imanente e acessível em seu Filho. Não deve gerar temores e tremores, mas impulsos de afeição e obediência filial. Diante dele, não somos soldados nem servidores, mas filhos de sua predileção.
Em seus “Cadernos”, Charles de Foucauld anotava: “Meu Deus, como sois bom, vós que nos permitis chamar-vos ‘nosso Pai’. Quem sou para que meu Criador, meu Rei, meu Mestre soberano, me permita chamá-lo ‘meu Pai’? E não somente o permita, mas o ordene? E já que sois meu Pai, ó meu Deus, quanto eu devo sempre esperar de vós! Mas também, já que sois tão bom para mim, quanto eu devo ser bom para com os outros!”
Aí está: quando se conhece a Deus como Pai, aí é que conhecemos o outro como irmão. Até lá, a fraternidade humana é impossível...
Orai sem cessar: “Pai nosso!” (Mt 6,9)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Leitura do Evangelho de João, Cap. 17, 11-19
11 Já não estou no mundo; mas eles permanecem no mundo e eu volto a ti. Pai santo, guarda-os em teu nome que me deste, para que sejam um como nós. 12 Quando eu estava com eles, eu os guardava em teu nome que me deste; guardei-os e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição, para cumprir-se a Escritura. 13 Agora, porém, vou para junto de ti e digo isso no mundo, a fim de que tenham em si minha plena alegria. 14 Eu lhes dei a tua palavra, mas o mundo os odiou, porque não são do mundo, como eu não sou do mundo. 15 Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno. 16 Eles não são do mundo como eu não sou do mundo. 17 Santifica-os na verdade; a tua palavra é verdade. 18 Como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo. 19 E, por eles, a mim mesmo me santifico, para que sejam santificados na verdade.
Palavra da Salvação.
Fonte: Bíblia de Jerusalém

