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ONDE ESTÁS? (Gn 3, 9-15.20)

OS EVANGELHOSGN 3

Antonio Carlos Santini

12/8/20243 min ler

Na alvorada da história humana – ainda no terceiro capítulo da Sagrada Escritura! – já podemos encontrar o Deus Criador à procura do homem. Enfurnado em um recanto do Jardim, vestido de culpa e de nudez, o homem parece evitar o encontro de todos os dias. E ressoa pelo Éden o chamado divino: “Onde estás?”

Segue-se o diálogo entre o Criador e o primeiro casal. Neste episódio, a mulher aparece como colaboradora da ruptura com Deus, motivada pela ilusão de serem “como Deus” (cf. Gn 3,5). É sugestivo que a liturgia da Igreja escolha exatamente esta passagem ao celebrar a solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora. Trata-se de estabelecer um paralelo – ou melhor, um contraste – entre duas mulheres: Eva e Maria. Aquela que foi o vetor da morte e aquela que foi a matriz da Vida.

No diálogo com Eva, o Criador procura orientar o olhar dela para um tempo futuro, quando um Descendente da mulher (cf. Gn 3,15) seria vencedor do mal que se espalhara pela Criação a partir da desobediência original. Assim, se uma mulher participara da Queda, outra Mulher participaria do reerguimento da humanidade. Após a degeneração da raça, um tempo de regeneração.

Os Padres da Igreja, desse os primeiros séculos do cristianismo, acentuaram o contraste entre as duas mulheres. Eva foi extraída do lado do primeiro Adão; do ventre de Maria nasceu o novo Adão, o Salvador Jesus. E não deixa de ser admirável que esta celebração recorde também a promoção da Mulher a alturas inimagináveis, pois o próprio Deus a escolhera como colaboradora da Encarnação do Verbo.

Ao comentarem esta passagem do Gênesis, conhecida como um “proto-evangelho”, os Padres da Igreja viram Maria como a “segunda Eva”, unida de modo esponsal ao segundo Adão, e mãe de todos os que foram arrancados das sombras da morte e voltaram a ser “viventes” com a vida que brota do Ressuscitado.

De fato, a saudação angélica na cena da Anunciação, quando Gabriel nomeia Maria de Nazaré como “cheia de graça”, isto é, sem nenhum espaço para o mal, afirma de modo positivo a concepção imaculada da futura Mãe de Deus. A forma verbal grega utilizada por São Lucas no Evangelho da Anunciação [kecharitoméne] bem merece a tradução: “Tu que foste e permaneces repleta do favor divino” (BJ, nota ‘t’).

E os poetas da Liturgia das Horas se divertem com o trocadilho EVA / AVE, onde a Igreja reconhece as glórias de Maria “mutans Hevae nomen”...

Orai sem cessar: “É a voz do meu Amado!” (Ct 2,8)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Escute a reflexão no vídeo abaixo

Leia aqui a Primeira Leitura...
Leitura do Livro do Gênesis cap. 3, 11-15.20.

9 Iahweh Deus chamou o homem: “Onde estás?”, disse ele. 10 “Ouvi teu passo no jardim,” respondeu o homem; “tive medo porque estou nu, e me escondi.” 11 Ele retomou: “E quem te fez saber que estavas nu? Comeste, então, da árvore que te proibi de comer!” 12 O homem respondeu: “A mulher que puseste junto de mim me deu da árvore, e eu comi!” 13 Iahweh Deus disse à mulher: “Que fizeste?” E a mulher respondeu: “A serpente me seduziu e eu comi.” 14 Então Iahweh Deus disse à serpente: “Porque fizeste isso és maldita entre todos os animais domésticos e todas as feras selvagens. Caminharás sobre teu ventre e comerás poeira todos os dias de tua vida. 15 Porei hostilidade entre ti e a mulher, entre tua linhagem e a linhagem dela. Ela te esmagará a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar... 20 O homem chamou sua mulher “Eva”, por ser a mãe de todos os viventes.”

Bíblia de Jerusalem

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ADÃO E EVA REPREENDIDOS

Espanha / 1771 / Francisco Bayeu

Museu do Prado, Madri, Espanha