
PERECEREIS TODOS DO MESMO MODO... (Lc 13, 1-9)
Antonio Carlos Santini
3/23/2025
Uma vez, diante de um cego de nascença, perguntaram a Jesus quem havia pecado: o cego infeliz ou os pais dele? Claro, viam na cegueira uma espécie de castigo pelo pecado. E Jesus o negou categoricamente (cf. Jo 9,2). Há algum tempo, quando irrompeu a epidemia de AIDS, muitos “profetas” viram ali um castigo pelos pecados. Certamente, Jesus continuaria negando a fácil interpretação.
Desta vez, temos uma torre em construção em Siloé que se abate sobre dezoito operários, matando todos eles. Mereciam morrer devido aos seus pecados? Jesus diz que não: os acidentados não eram mais pecadores que os demais habitantes de Jerusalém. Melhor: não eram mais pecadores que nós.
E o Mestre se vale desta notícia para nos dar a lição essencial: “Se não vos converterdes, perecereis do mesmo modo”. Rude cominação? Dura ameaça? Nada disso! Trata-se apenas de uma séria exortação a nos preparemos para o encontro definitivo com Deus. De certo modo, nós estamos todos in-seguros face ao nosso julgamento; não sem motivo, a sabedoria nos convida a prepará-lo. Nota-se que os judeus do tempo de Jesus se enganavam na avaliação dos fatos.
Para Helmut Gollwitzer, o erro dos judeus estava em estabelecer uma relação direta entre desastre e culpabilidade. “Com a dureza mais chocante, Jesus contrapõe a essa avaliação a igualdade de todos na responsabilidade. Ao fazê-lo, ele não se fundamenta sobre um dogma do pecado original, mas, dirigindo-se diretamente a seus ouvintes, revela sem rodeios que todos, sem exceção, se encontram em um estado de pecado que os tornaria dignos de uma sorte semelhantes à daqueles infelizes”.
Isto elimina em definitivo aquele julgamento tão comum: fulano não merecia isto... Eu sempre fui ministro da Eucaristia; por que me acontece esta desgraça?... Logo o beltrano, tão bonzinho!
Nós não somos bonzinhos, garante Jesus (cf. Lc 11,13). Por nossos próprios méritos, nada teríamos a receber. Só Deus é bom. Mas podemos reconhecer nossas maldades, nossas omissões, nossas indiferenças e, contritos, rogar os benefícios da misericórdia de Deus, que é Pai, e receber o perdão que ele tem para os filhos.
Neste sentido, tanto os pequenos problemas quanto os grandes desastres – a perna quebrada e a ruína da barragem – podem ser aproveitados como um convite a mudar de vida e imprimir novo sentido à nossa existência.
Enquanto é tempo...
Orai sem cessar: “Na tua mão, Senhor, está o meu destino!” (Sl 31,15)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Leitura do Evangelho de São Lucas, Cap. 13, 1-9.
13 Convites providenciais ao arrependimento —1Nesse momento, vieram algumas pessoas que lhe contaram o que acontecera com os galileus, cujo sangue Pilatos havia misturado com o das suas vítimas. 2Tomando a palavra, ele disse: “Acreditais que, por terem sofrido tal sorte, esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus? 3Não, eu vos digo; todavia, se não vos arrependerdes, perecereis todos do
mesmo modo. 4Ou os dezoito que a torre de Siloé matou em sua queda, julgais que a sua culpa tenha sido maior do que a de todos os habitantes de Jerusalém? 5Não, eu vos digo; mas, se não vos arrependerdes, perecereis todos de modo semelhante”.
Parábola da figueira estéril —6Contou ainda esta parábola: “Um homem tinha uma figueira plantada em sua vinha. Veio a ela procurar frutos, mas não encontrou. 7Então disse ao vinhateiro: ‘Há três anos que venho buscar frutos nesta figueira e não encontro. Corta-a; por que há de tornar a terra infrutífera?’ 8Ele, porém, respondeu: ‘Senhor, deixa-a ainda este ano para que eu cave ao redor e coloque adubo. 9Depois, talvez, dê frutos…Caso contrário, tu a cortarás’”.
Fonte: Bíblia de Jerusalém

