
POR CIMA DAS ÁGUAS... (Mt 14,22-36)
OS EVANGELHOSPRMT 14
Antonio Carlos Santini
8/5/2025
Nós descendemos do velho Adão, a criatura que foi modelada da argila da terra. Homem, humano, venho do húmus. Por isso mesmo, só nos sentimos seguros em terra firme. A água assusta, o mar profundo é imagem da morte.
Neste Evangelho, ao ver que Jesus de Nazaré caminhava sobre as ondas do lago encapelado, Pedro ousa pedir: “Senhor, se és tu, manda-me ir ter contigo por cima das águas”. É óbvio que o velho pescador bem sabia que pedia algo impossível aos homens, mas possível a Deus. Só Deus tinha domínio sobre os elementos: o mesmo que manda a chuva, caminha sobre o mar.
E o Filho de Deus aceita fazer o jogo de Simão Pedro: “Vem!” Ao mesmo tempo, pede-lhe um ato de fé e um salto no escuro. Pedro salta e começa a andar, superando os limites de sua humanidade. Mas o vendaval redobra as forças e o discípulo se deixa intimidar. Afundando, pede: “Salva-me, Senhor!”
Aqui estamos diante de um grande mistério: ainda que o poder de Deus esteja de nosso lado, como um vento a favor, o Senhor sempre conta com uma resposta de fé de nossa parte. Se nós perdemos a confiança, é como se impedíssemos que a graça divina continuasse a nos sustentar.
De fato, podemos cair em dois extremos: de um lado, em uma atitude de autossuficiência, apostar apenas em nossos dons e capacidades humanos; de outro, no extremo do ceticismo, duvidar até mesmo do poder de Deus posto ao nosso alcance. Soberba e desconfiança – duas maneiras de afundar...
O caminho de salvação se resume exatamente em desconfiar de nós mesmos, fracos e limitados, e em apostar todas as fichas no amor onipotente que o Senhor derrama sobre nós. Como escreveu o apóstolo Paulo, “quando sou fraco, aí é que sou forte”. (2Cor 12,10.) De fato, o bom Deus sempre se compraz em agir por meio de instrumentos frágeis e deficientes, como declarou o Papa Bento XVI ao subir à cadeira de Pedro. Ao contrário, quando um de nós se gloria de suas próprias realizações e sucessos, como se eles fossem devidos apenas a nosso heroico esforço, inteligência e heroísmo, não demora a ruir o nosso castelo de areia... É mera questão de tempo!
A vida é como o mar. O trabalho, a família, a Igreja nos oferecem constantes tempestades. Na hora das dificuldades e incertezas, chega o momento crítico de tomar uma decisão: confiaremos no Deus forte? Ou insistiremos em nos apoiar sobre nossas falsas seguranças?
Orai sem cessar: “Salva-me, ó Deus: a água me chega até a garganta!” (Sl 69,2)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Escute a reflexão no vídeo abaixo
Leitura do Evangelho de São Mateus, Cap. 14, 13-21
Jesus caminha sobre as águas e Pedro com ele —22Logo em seguida, forçou os discípulos a embarcar e aguardá-lo na outra margem, até que ele despedisse as multidões. 23Tendo-as despedido, subiu ao monte, a fim de orar a sós. Ao chegar a tarde, estava ali, sozinho. 24O barco, porém, já estava a uma distância de muitos estádios da terra, agitado pelas ondas, pois o vento era contrário. 25Na quarta vigília da noite, ele dirigiu-se a eles, caminhando sobre o mar. 26Os discípulos, porém, vendo que caminhava sobre o mar, ficaram atemorizados e diziam: “É um fantasma!” E gritaram de medo. 27Mas Jesus lhes disse logo: “Tende confiança, sou eu, não tenhais medo”. 28Pedro, interpelando-o, disse: “Senhor, se és tu, manda que eu vá ao teu encontro sobre as águas”. 29E Jesus respondeu: “Vem”. Descendo do barco, Pedro caminhou sobre as águas e foi ao encontro de Jesus. 30Mas, sentindo o vento, ficou com medo e, começando a afundar, gritou: “Senhor, salva-me!” 31Jesus estendeu a mão prontamente e o segurou, repreendendo-o: “Homem fraco na fé, por que duvidaste?” 32Assim que subiram ao barco, o vento amainou. 33Os que estavam no barco prostraram-se diante dele dizendo: “Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!”
Curas na terra de Genesaré —34Terminada a travessia, alcançaram terra em Genesaré.35Quando os habitantes daquele lugar o reconheceram, espalharam a notícia de sua chegada por toda a região. E lhe trouxeram todos os doentes, 36rogando-lhe tão-somente tocar a orla da sua veste. E todos os que a tocaram foram salvos.
Texto da Bíblia de Jerusalém.

