
TODOS COMERAM... (Mt 14,13-21)
OS EVANGELHOSPRMT 14
Antonio Carlos Santini
8/3/2025
Sim, todos comeram. E eram cinco mil, sem contar mulheres e crianças, que àquela época não se costumava recensear. Ninguém ficou com fome. E ainda sobraram quantos cestos cheios de pão? Doze.
Mas não era esta a intenção inicial dos discípulos de Jesus. Quando viram a multidão com fome e o adiantado da hora, sugeriram uma solução bem prática: devolver todo mundo para casa. Se desfalecessem pelo caminho, cavacos do ofício...
Pois não foi este o desígnio do Mestre. Por estranho que parecesse, ele deu a ordem: “Vocês mesmos deem a eles de comer...” É assim que Jesus nos obriga a entender que a fome do outro é, sim, problema nosso.
E fique bem claro que não havia comida suficiente para ser “partilhada” com a grande multidão, como pretendem certos pregadores distributivistas. Cinco pães e dois lambaris jamais saciariam tanta gente. Ou seja, estamos de fato diante de um milagre. Nós entramos com pouco e Deus entra com mais que o necessário. É sobre este descompasso entre o humano e o divino que Urs von Balthasar nos esclarece:
“O motivo atravessa os evangelhos: desde Caná, a primeira revelação pública, o homem tem pouco demais, e Deus lhe oferece em excesso. Mais vinho e, depois, por assim dizer, tarde demais, uma superabundância. Cinco pães e, após a saciedade de milhares de pessoas, doze cestos daquilo que sobrou e é devolvido aos discípulos para que o gerenciem.
Naturalmente, o paradoxo material é apenas um ‘sinal’. Uma parábola para aquilo é espiritual: o Todo-Poderoso é doce e humilde de coração, o revelador, rejeitado por todos, e recebe o julgamento total sobre o mundo que lhe é transmitido. Não se trata apenas da oposição entre a pobreza do homem e a riqueza de Deus, mas do paradoxo bem mais profundo de um Deus que se faz pobre para nos enriquecer a todos (cf. 2Cor 8,9). Ele, o perseguido, distribui diante de nós, precisamente nessa situação, a sua riqueza inconcebível.”
Os socialistas vão insistir nas fazendas coletivas. Os financistas dirão que é preciso, primeiro, deixar o bolo crescer para depois reparti-lo com quem sentir fome (se não tiver morrido ainda). Jesus é diferente: ele ensina a contar com Deus, aquele que multiplica nosso nada e divide o seu tudo.
É diferente a matemática de Deus...
Orai sem cessar: “O Senhor não deixa que o justo passe fome.” (Pr 10,3)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Escute a reflexão no vídeo abaixo
Leitura do Evangelho de São Mateus, Cap. 14, 13-21
Primeira multiplicação dos pães — 13Jesus, ouvindo isso, partiu dali, de barco, para um lugar deserto, afastado. Assim que as multidões o souberam, vieram das cidades, seguindo-o a pé. 14Assim que desembarcou, viu uma grande multidão e, tomado de compaixão, curou os seus doentes. 15Chegada a tarde, aproximaram-se dele os seus discípulos, dizendo: “O lugar é deserto e a hora já está avançada. Despede as multidões para que vão aos povoados comprar alimento para si”. 16Mas Jesus lhes disse: “Não é preciso que vão embora. Dai-lhes vós mesmos de comer”. 17Ao que os discípulos responderam: “Só temos aqui cinco pães e dois peixes”. Disse Jesus: 18“Trazei-os aqui”. 19E, tendo mandado que as multidões se acomodassem na grama, tomou os cinco pães e os dois peixes, elevou os olhos ao céu e abençoou. Em seguida, partindo os pães, deu-os aos discípulos, e os discípulos às multidões. 20Todos comeram e ficaram saciados, e ainda recolheram doze cestos cheios dos pedaços que sobraram. 21Ora, os que comeram eram cerca de cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.
Texto da Bíblia de Jerusalém.
ALIMENTAÇÃO
Anton von Perger (1809–1876)/ 1838
Óleo sobre tela
Museu de História da Arte de Viena, Áustria

