
VIRAM QUE ESTAVA MORTO... (Jo 19,17-18.25-39)
OS EVANGELHOSJO 19
Este Evangelho – um dos textos opcionais para a celebração de Finados – nos coloca diante de um mistério central da doutrina cristã, que a comunidade repete todas as vezes que rezamos o Símbolo de Niceia e Constantinopla: Jesus Cristo morreu verdadeiramente. Passus et sepultus est.
Para acelerar a morte dos supliciados na cruz, os romanos costumam quebrar-lhes as pernas, pois sem esse apoio as vítimas asfixiavam mais rápido. O detalhe registrado pelo evangelista São João – os soldados deixaram de quebrar as pernas do Crucificado, pois já estava morto (v. 33) – não deixa qualquer dúvida a respeito da morte corporal do Filho de Deus, o Verbo encarnado.
Nossa admiração comovida jamais deveria ser trocada pela rotina quando a Liturgia reconduz ao nosso olhar a cena do Calvário: o Filho de Deus morreu por nós! Foi este o grau supremo de seu despojamento, sua “kênosis”, como São Paulo observa na Carta aos Filipenses: “Encontrado em aspecto humano, [Cristo] humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte – e morte de cruz!” (Fl 2,7b-8)
Crucificado entre dois ladrões, após sofrer extremos castigos corporais, Jesus Cristo experimenta em sua carne o destino provisório de todos os humanos: a morte. E assim se manifesta sem reservas a total solidariedade do Salvador com cada homem e cada mulher. Nada de nossa humanidade – exceto o pecado – esteve ausente da experiência humana do Verbo encarnado.
Para os pagãos, a morte continua sendo um enigma inexplicável, um desfecho inaceitável para a vida humana. O cristão, ao contrário, ao contemplar a morte de Jesus e sua ressurreição ao terceiro dia, é capaz de assumir com Cristo a própria morte e, confiante na ressurreição do grande Dia do Senhor, ver na mesma morte a porta que se abre para a vida eterna em Deus.
Por isso mesmo, um dos prefácios opcionais para a liturgia dos fiéis defuntos afirma de modo categórico: “Vita mutatur, non tollitur”. A vida é transformada, não é tirada. Não é uma “perda”, mas uma transformação. Outro dos prefácios professa: “quando a morte nos atinge, vosso amor de Pai nos salva”.
O Rito das Exéquias comenta: “Nos ritos fúnebres, a Igreja celebra com fé o mistério pascal, na certeza de que todos que se tornaram pelo Batismo membros do Cristo crucificado e ressuscitado, através da morte, passam com ele à vida sem fim”.
Como estamos fazendo nossa preparação para a morte? Afinal, geralmente morremos como vivemos...
Orai sem cessar: “Eram as nossas dores que ele levava às costas...” (Is 53,4)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
CALVÁRIO
Alemanha/ 1470 - 1480 / Master of the Death of Saint Nicholas of Münster
National Galery of Art, Columbia, EUA.


Leia aqui o Evangelho...
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João 19,17-18.25-39
17 E ele saiu, carregando a sua cruz,
e chegou ao chamado “Lugar da Caveira” — em hebraico chamado Gólgota -
18 onde o crucificaram; e, com ele, dois outros: um de cada lado e Jesus no meio.
25 Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena.
26 Jesus, então, vendo sua mãe e, perto dela, o discípulo a quem amava, disse à sua mãe: “Mulher, eis o teu filho!”
27Depois disse ao discípulo: “Eis a tua mãe!” E a partir dessa hora, o discípulo a recebeu em sua casa.
28 Depois, sabendo Jesus que tudo estava consumado, disse, para que se cumprisse a Escritura até o fim: “Tenho sede!”
29 Estava ali um vaso cheio de vinagre. Fixando, então, uma esponja embebida de vinagre num ramo de hissopo, levaram-na à sua boca.
30 Quando Jesus tomou o vinagre, disse: “Está consumado!” E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.
31 Como era a Preparação, os judeus, para que os corpos não ficassem na cruz durante o sábado — porque esse sábado era um grande dia! — pediram a Pilatos que lhes quebrassem as pernas e fossem retirados.
32 Vieram, então, os soldados e quebraram as pernas do primeiro e depois do outro, que fora crucificado com ele.
33 Chegando a Jesus e vendo-o já morto, não lhe quebraram as pernas,
34 mas um dos soldados, traspassou-lhe o lado com a lança e imediatamente saiu sangue e água. 35 Aquele que viu dá testemunho e seu testemunho é verdadeiro; e ele sabe que diz a verdade, para que também vós creiais,
36 pois isso aconteceu para que se cumprisse a Escritura: Nenhum osso lhe será quebrado.
37 E uma outra Escritura diz ainda: Olharão para aquele que traspassaram.
38 Depois, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus, mas secretamente, por medo dos judeus, pediu a Pilatos que lhe permitisse retirar o corpo de Jesus. Pilatos o permitiu. Vieram, então, e retiraram seu corpo.
39 Nicodemos, aquele que anteriormente procurara Jesus à noite, também veio, trazendo cerca de cem libras de uma mistura de mirra e aloés.