VÓS SEREIS MINHAS TESTEMUNHAS [Lc 24,46-53]
Antonio Carlos Santini
6/1/2025
Para nós, em nossos dias, a palavra “testemunha” logo nos orienta para um júri, um julgamento, juiz, advogados, banco dos réus. Um papel quase burocrático. Não era assim no grego original do Evangelho, onde a testemunha é o mártyros, ou seja, que testemunha com a própria vida, com o próprio sangue.
A primeira testemunha foi o próprio Jesus Cristo, que declara diante de Pilatos: “Eu nasci e vim a este mundo para isto: para dar testemunho da verdade”. E isto lhe custou a vida.
Os primeiros cristãos, ao serem batizados, em tempo da mais cruenta perseguição, sabiam muito bem que se preparavam para o martírio: um testemunho de fé radical, que afirmava diante de todos o absoluto de sua vida em Cristo.
Neste Evangelho, já ressuscitado, Jesus se despede de seus discípulos; mas não sem, antes, delegar a eles a missão de testemunhar. Não se trata de mero heroísmo, mas de uma experiência de profunda intimidade com Deus, capaz de dar prioridade aos valores do espírito, em prejuízo das preferências da carne, para espanto e incompreensão do mundo pagão que os cercava.
“O testemunho do Espírito Santo que virá dar continuidade à obra de Jesus, procederá de um mesmo mistério de intimidade e reciprocidade. Ele foi anunciado e prometido por Jesus, mas recordará, por sua vez, tudo aquilo que Jesus havia dito. Jesus aponta para o Espírito e orienta para ele; mas o Espírito, por seu lado, orienta para Jesus e o glorifica. É que tudo lhes é comum, tudo é compartilhado para o nosso bem: ‘Aquilo que o Espírito disser não virá dele mesmo: ele repetirá tudo o que tiver ouvido... Ele me glorificará, pois retomará o que vem de mim para vo-lo explicar’ (Jo 16,14).” (André Louf)
Esta misteriosa participação na vida trinitária, na mais profunda intimidade com as Pessoas divinas, é que faz do cristão uma testemunha válida da fé recebida no batismo. É do amor experimentado na convivência com as três Pessoas que brota o testemunho, pois somente o amor é digno de fé.
Assim, quando for oferecida ao cristão, com a condição de negar sua fé, uma recompensa material, uma posição vantajosa, um cargo de poder, um casamento de interesse, ele nem de longe será abalado. A legião de mártires que a história da Igreja registra é a confirmação de tudo isso...
Orai sem cessar: “Se alguém oferecesse todos os tesouros para comprar o amor, só mereceria desprezo (Ct 8,7b).
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Leitura do Evangelho de Lucas 24, 35-46.
46e disse-lhes: “Assim está escrito que o Cristo devia sofrer e ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, 47e que, em seu Nome, fosse proclamado o arrependimento para a remissão dos pecados a todas as nações, a começar por Jerusalém. 48 Vós sois testemunhas disso. 49 Eis que eu vos enviarei o que meu Pai prometeu. Por isso, permanecei na cidade até serdes revestidos da força do Alto”.
A ascensão —50 Depois, levou-os até Betânia e, erguendo as mãos, abençoou-os.51 E enquanto os abençoava, distanciou-se deles e era elevado ao céu. 52 Eles se prostraram diante dele,” e depois voltaram a Jerusalém com grande alegria, 53e estavam continuamente no Templo, louvando a Deus.
Palavra da Salvação.
Fonte: Bíblia de Jerusalém
A ASCENÇÃO
ALBECHT DRURER / SEC. XVI
Xilogravura
6.4 x 5.1 cm
Museu Metropolitano de Arte, Nova Iorque, EUA.

