A TRAVE NO TEU OLHO... (Lc 6,39-42)
OS EVANGELHOSLC 6PR
Antonio Carlos Santini
9/12/2025
Muita gente anda à procura de orientadores que possam iluminar o caminho e auxiliar nas decisões. Hoje, existe o tal “coach”, definido como uma espécie de treinador que assessora o cliente, levando-o a refletir, chegar a conclusões, definir ações e, principalmente, agir em direção a seus objetivos, metas e desejos. E dizem por aí que se tornou uma função bastante rendosa...
Na vida espiritual, sempre existiram homens e mulheres que atraíram discípulos que neles viam pessoas capazes de orientá-los para Deus. Ali onde alguém se destacava pela virtude, logo era cercado pela multidão em busca de luz. Óbvio, quem fez a experiência de Deus – quase sempre pela via do sofrimento e da cruz – estará em condições de encaminhar os seus discípulos.
O problema está em buscar apoio e iluminação em pessoas que continuam nas trevas. Aqui e ali – ainda mais agora, quando a informação e a comunicação não deixam nada oculto – manifestam-se graves desvios em “guias de cegos”, ou seja, pessoas que se arvoraram a orientar os outros quando elas mesmas estavam desorientadas.
Comentando este Evangelho, Helmut Gollwitzer observa que Jesus está mostrando aos discípulos que, antes de mudar os outros, eles devem se dedicar à mudança de si mesmos. “Esta ordem é irreversível (v. 42). É claro que Jesus tem em vista o perigo para os discípulos em sua missão de pregadores: eles correm o risco de serem desqualificados depois de terem servido de arautos para os outros (cf. 1Cor9,27). É por isso que ele os impede de se erigirem como juízes, imprimindo no espírito deles a exata condição de toda pregação”.
De fato, o handicap negativo do pregador está nele mesmo: como pregar aos outros um Evangelho que ele mesmo não está vivendo pessoalmente? Como propor um programa de vida que ele mesmo não está seguindo? Todos conhecem o caso do pneumologista que fuma... E a situação da nutricionista obesa... Vale, então, a máxima dos antigos: “Médico, cura-te a ti mesmo!”
Para deixar bem claro o absurdo da situação, Jesus vai valer-se de duas imagens em contraste: o cisco e a trave. Se eu tenho os olhos prejudicados por um grande obstáculo – a trave de madeira -, como pretendo extrair o pequeno – o cisco – da vista de meu irmão? O apelo ao absurdo deve levar-nos a um exame de consciência.
Não se trata de fazer ilusões sobre a cegueira dos outros, nem de ficar indiferente a ela. Trata-se de mudar primeiro a minha própria visão e – só depois – tentar mudar a visão dos outros.
Orai sem cessar: “Senhor, que eu veja!” (Mc 10,51b)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Escute a reflexão no vídeo abaixo

Leitura do Evangelho de São Lucas, Cap. 6, 39-42
Condições do zelo —39Disse-lhes ainda uma parábola: “Pode acaso um cego guiar outrocego? Não cairão ambos num buraco? 40Não existe discípulo superior ao mestre; todo o discípulo perfeito deverá ser como o mestre. 41Por que olhas o cisco no olho de teu irmão, e não percebes a trave que há no teu? 42Como podes dizer a teu irmão: ‘Irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho’, quando não vês a trave em teu próprio olho? Hipócrita, tira primeiro a trave de teu olho, e então verás bem para tirar o cisco do olho de teu irmão.
Texto da Bíblia de Jerusalém.

