
A VONTADE DO PAI
Antonio Carlos Santini (Jo 6, 35-40)
A fé católica a respeito do Verbo encarnado, Jesus Cristo, reconhece nele a existências de duas naturezas, a divina, que é eterna, e a humana, assumida em sua encarnação. Entre as heresias dos primeiros séculos, estava o monotelismo, que afirmava haver em Jesus uma só vontade, com a humana absorvida pela divina. Não é esta a nossa fé.
Os Evangelhos deixam claro que na pessoa de Jesus de Nazaré conviviam duas vontades: a humana e a divina. E Jesus exercita sua vontade humana ao repelir a tentação do demônio no deserto (Mt 4), e leva-a ao extremo limite quando, “em outra ocasião” (cf. Lc 4,13), o tentador volta a assediá-lo, na agonia do Getsêmani (Lc 22,42).
No Jardim das Oliveiras, Jesus reza ao Pai: “Não se faça a minha vontade, mas a tua”. Era a comprovação definitiva do desígnio que o Salvador perseguira por toda a sua vida: fazer a vontade do Pai, ou seja, alinhar toda a sua existência às intenções do Pai com a encarnação do Filho. Jesus afirma que este era o seu alimento: “O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e levar a termo a sua obra” (Jo 4,34).
Lev Gillet comenta esta passagem: “O cumprimento da vontade do Pai é o alimento de Jesus, pois, se assim não fosse, de quem o Filho seria a imagem e a palavra? O cumprimento da vontade do Pai através da vontade de Jesus é o nosso alimento, porque este cumprimento renova a cada dia as nossas forças, forma e desenvolve a figura espiritual que Deus atribui a cada um de nós, e porque ele nos leva ao pleno crescimento”.
A descoberta de que a santificação, isto é, a vida cristã em plenitude, consiste exatamente em fazer a vontade de Deus, marcou o surgimento de vários institutos religiosos, com destaque para as congregações missionárias. Exemplo disso são os padres do Sagrado Coração de Jesus de Bétharram, cujo fundador, o basco francês S. Miguel Garicoits, adotou como sigla as letras FVD, do latim “Fiat Voluntas Dei”.
Não deixa de ser curioso que o brasão da casa real inglesa traga uma inscrição diferente: “Fiat voluntas mea” [faça-se a minha vontade], em clara demonstração do absolutismo monárquico. Exatamente o contrário da submissão do Filho, que assume a aparência de escravo (cf. Fl 2,7) e se abandona por inteiro aos desígnios do Pai.
Orai sem cessar: “Eis que venho, ó Deus, para fazer a tua vontade!” (Hb 10,7)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Leitura do Evangelho de São João 6, 35-40.
35 Jesus lhes disse: “Eu sou” o pão da vida. Quem vem a mim, nunca mais terá fome, e o que crê em mim nunca mais terá sede. 36 Eu, porém, vos disse: vós me vedes, mas não credes. 37 Todo aquele que o Pai, me der virá a mim, e quem vem a mim eu não o rejeitarei, 38 pois desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. 39 E a vontade daquele que me enviou é esta: que eu não perca nada do que ele me deu, mas o ressuscite no último dia. 40Sim, esta é a vontade de meu Pai: quem vê o Filho e nele crê tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia”.
Fonte: Bíblia de Jerusalém
A SÉTIMA PALAVRA
Representação da Sétima Palavra (frase) de Cristo, pronunciada por Jesus, da cruz, em um livro de 1738 da Irmandade da Agonia da Morte na Igreja Jesuíta de Passau, Áustria.
Trata-se da imagem da Crucificação de Cristo com representação segundo Mateus 27:52
"monumenta aperta sunt…" (Abriram-se os túmulos e muitos corpos dos santos falecidos ressuscitaram)

