BOLSAS QUE NÃO SE ESTRAGUEM... (Lc 12,32-48)
OS EVANGELHOSPRLC 12
Antonio Carlos Santini
8/10/2025
Na verdade, a tradução literal do original grego seria “bolsas que não ficam velhas”. E nenhuma mulher elegante gosta de usar uma bolsa velha, arranhada, rasgada ou simplesmente fora de moda. Só que Jesus não está preocupado com a elegância feminina, mas com o rumo de nossa vida...
O Mestre sabe muito bem que nós temos uma inclinação natural para nos prendermos a bolsas furadas. Pode ser mesmo a Bolsa de Valores, que às vezes quebra – como em 1929 – causando a recessão econômica e a miséria de muita gente. Jesus está contrapondo os valores materiais – a “bolsa” é o símbolo deles – e os valores perenes, aqueles que duram além da morte.
Quanto às bolsas materiais, logo serão cuidadas pelos ladrões e pelas traças; roubadas ou corroídas, levarão seus donos à decepção. Ou, queira Deus, a uma tomada de consciência que reoriente o itinerário de sua existência. Muitos santos deram o primeiro passo na santidade exatamente a partir de uma decepção, de uma “roubada”. Pode ser uma perna quebrada, como a de Inácio de Loyola, ou o tombo de um cavalo, como aconteceu com Saulo de Tarso.
Neste Evangelho, Jesus vinha falando de lírios do campo e passarinhos, todos eles muito bem cuidados pelo Pai do céu, que veste os lírios de ouro e alimenta as aves que não semeiam nem colhem. Em uma palavra: Providência divina. Esta realidade espiritual – mas sempre traduzida do modo mais palpável e concreto! – se posiciona no polo oposto ao mundo capitalista, construído de dinheiro, poupanças, investimentos, megaprojetos, torres de Babel.
No Brasil, como em muitos países, discute-se a PREvidência como algo essencial para a sociedade, pois nada se espera da PROvidência. O que conta são os meios humanos, os recursos gerados pelo próprio homem, e são raros os que esperam algo das mãos de Deus. O tempo se encarregará de trazer à luz as loucuras do racionalismo materialista. Envolvido pelo sistema capitalista, o homem se faz escravo dos valores que procura, sacrificando a própria vida. Entre as coisas sacrificadas, a liberdade, o grande dom de Deus ao homem. Jesus acena aos com a experiência da liberdade, sem as cadeias da posse, da acumulação, dos cuidados sufocantes que amargam sua vida.
O ladrão se aproxima. Quer arrombar a casa, o cofre e os bens acumulados. Os pobres não o temem, pois só acumulam os dons de Deus...
Orai sem cessar: “Se o Senhor não edificar a casa, em vão se cansam os construtores!” (Sl 127,1)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Escute a reflexão no vídeo abaixo
Leitura do Evangelho de São Lucas, Cap. 12, 32-48
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos:
32 "Não tenhais medo, pequenino rebanho,
pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino.
33 Vendei vossos bens e dai esmola.
Fazei bolsas que não se estraguem,
um tesouro no céu que não se acabe;
ali o ladrão não chega nem a traça corrói.
34 Porque onde está o vosso tesouro,
aí estará também o vosso coração.
35 Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas.
36 Sede como homens que estão esperando
seu senhor voltar de uma festa de casamento,
para lhe abrirem, imediatamente, a porta,
logo que ele chegar e bater.
37 Felizes os empregados que o senhor
encontrar acordados quando chegar.
Em verdade eu vos digo:
Ele mesmo vai cingir-se, fazê-los sentar-se à mesa
e, passando, os servirá.
38 E caso ele chegue à meia-noite ou às três da madrugada,
felizes serão, se assim os encontrar!
39 Mas ficai certos: se o dono da casa
soubesse a hora em que o ladrão iria chegar,
não deixaria que arrombasse a sua casa.
40 Vós também ficai preparados!
Porque o Filho do Homem vai chegar
na hora em que menos o esperardes".
41 Então Pedro disse:
"Senhor, tu contas esta parábola para nós ou para todos?"
42 E o Senhor respondeu:
"Quem é o administrador fiel e prudente
que o senhor vai colocar à frente do pessoal de sua casa
para dar comida a todos na hora certa?
43 Feliz o empregado que o patrão, ao chegar,
encontrar agindo assim!
44 Em verdade eu vos digo: o senhor lhe confiará a
administração de todos os seus bens.
45 Porém, se aquele empregado pensar:
'Meu patrão está demorando',
e começar a espancar os criados e as criadas,
e a comer, a beber e a embriagar-se,
46 o senhor daquele empregado chegará num dia inesperado
e numa hora imprevista,
ele o partirá ao meio
e o fará participar do destino dos infiéis.
47 Aquele empregado que, conhecendo a vontade do senhor,
nada preparou, nem agiu conforme a sua vontade,
será chicoteado muitas vezes.
48 Porém, o empregado que não conhecia essa vontade
e fez coisas que merecem castigo,
será chicoteado poucas vezes.
A quem muito foi dado, muito será pedido;
a quem muito foi confiado, muito mais será exigido!"
Palavra da Salvação.
CRISTO EM CASA DE MARTA E MARIA
Henry Ossawa Tanner/ Sec. XIX
Óleo sobre Tela
Carnagie Museum of Art, Pittisburg, EUA

