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E O EXPULSARAM DA CIDADE... (Lc 4, 24-30)

Antonio Carlos Santini

3/24/2025

Este Evangelho registra, ao mesmo tempo, o primeiro “sermão” de Jesus, em plena sinagoga de Nazaré, e a reação imediata de rejeição de seus ouvintes. Como anota o prólogo do Evangelho de São João (1,11), o Verbo-Palavra “veio para o que era seu, mas os seus não o acolheram”.

Neste episódio, Jesus está na cidade onde cresceu e trabalhou como “naggar” [carpinteiro, artesão] na oficina de José. De início suas palavras chamam a atenção; até reconhecem que são “palavras de graça” [lógoi tês cháritos – v. 22]. Mas logo a situação se inverte. O pregador era bem conhecido deles, era “gente comum”; assim, já havia contra ele uma predisposição negativa por parte dos conterrâneos. Jesus o percebe e alude ao provérbio conhecido de todos: ninguém é profeta em sua terra.

Ao longo de sua vida pública, a situação será semelhante. A mesma turba que aclama Jesus é aquela que gritará “crucifica-o”. Os mesmos que comeram do macio pão multiplicado logo se afastarão porque suas palavras eram duras demais (cf. Jo 6,60.66). Um dos Doze será seu traidor.

Para o biblista Helmuth Gollwitzer, “o homem que a gente conhece não poderia ser o portador de uma revelação divina. É por isso que eles exigem um milagre. Não somente em terra estrangeira, mas ali, entre eles; Jesus deveria realizar seus grandes feitos para ser acreditado pelos homens de Nazaré”.

Que pensar daqueles cristãos que exclamam: - Ah! Se eu tivesse vivido no tempo de Cristo, seria muito mais fácil viver o Evangelho! Se eu tivesse presenciado seus milagres, minha fé seria mais firme!” Doce ilusão! O Messias enviado por Deus era humano demais, comum demais, completamente estranho ao “modelo” messiânico que se identificava com um líder vencedor, um guia que levasse Israel a expulsar o invasor romano. Por isso mesmo, quando Jesus fazia seus milagres, a reação geral era de espanto (Mt 14,26), de medo (Lc 8,25), raramente de fé.

Assim, não é tão incompreensível a reação dos nazarenos que tentam empurrar Jesus pela encosta da montanha e tirar-lhe a vida. “Muito seguros de si mesmos, seus ouvintes, para quem a eleição divina era uma herança indiscutível, não têm outra resposta a não ser sua tentativa de assassinato” (H. Gollwitzer).

Passaram séculos. Jesus já morreu e ressuscitou. Suas palavras continuam incomodando. Elas deviam bastar para orientar nosso itinerário para o Pai. Mas ainda é numeroso o grupo daqueles que exigem sinais. Cuidado com eles!

Orai sem cessar: “Minha porção, Senhor, é guardar tuas palavras!” (Sl 119,57)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Escute a reflexão no vídeo abaixo

Leitura do Evangelho de São Lucas, Cap. 4, 24-30.

24 Mas em seguida acrescentou: “Em verdade vos digo que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria. 25 De fato, eu vos digo que havia em Israel muitas viúvas nos dias de Elias, quando por três anos e seis meses o céu permaneceu fechado e uma grande fome devastou toda a região; 26Elias, no entanto, não foi enviado a nenhuma delas, exceto a uma viúva, em Sarepta, na região de Sidônia. 27Havia igualmente muitos leprosos em Israel no tempo do profeta Eliseu; todavia, nenhum deles foi purificado, a não ser o sírio Naamã”. 28Diante dessas palavras, todos na sinagoga se enfureceram. 29E, levantando-se, expulsaram-no para fora da cidade e o conduziram até um cimo da colina sobre a qual a cidade estava construída, com a intenção de precipitá-lo de lá. 30Ele, porém, passando pelo meio deles, prosseguia seu caminho…

Fonte: Bíblia de Jerusalém

IMAGEM DE CAPA:

A PEQUENA RUA

Johannes Vermeer / 1657–1658

© Rijksmuseum, Amsterdam

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