
ELE DÁ ORDEM AOS ESPÍRITOS IMPUROS (Lc 4,31-37)
Antonio Carlos Santini
9/2/2025
No Evangelho de hoje, em plena reunião da sinagoga judaica, Jesus é interpelado por um dos presentes, movido por um “espírito impuro”, ou seja, um demônio, que se sente ameaçado pela presença e pela palavra do Senhor: “Que queres de nós: Vieste para nos perder?” Prontamente Jesus Cristo o reduz ao silêncio e o expulsa.
Infelizmente, em textos de teólogos e nas palavras de pregadores, tenho verificado o esforço desses racionalistas para negarem a existência do demônio. Certa vez, em Volta Redonda, anos 70, em um encontro de casais, era um cônego a rotular os anjos maus como superstição. Pedi a palavra e perguntei-lhe como explicava a presença do mal no mundo. Ele disse que voltaria no dia seguinte para responder. Não voltou...
O biblista Helmut Gollwitzer comenta esta passagem.
“Todos os relatos de exorcismo mostram que Jesus é o ‘mais forte’, pois sua palavra se reveste de um poder que não poderia ser comparado ao poder das mais fortes palavras humanas. É inútil querer considerar tais relatos [do Evangelho]. A considerá-los como o eco de uma superstição popular ultrapassada, perde-se ao mesmo tempo toda a compreensão da história de Jesus. Aquilo que habitualmente fica escondido é trazido à luz nessas aparições demoníacas: de fato, o reino de Satã se apresenta como um reinado real e pessoal.”
“A Bíblia não dá explicação sobre demônios, mas leva-os a sério como uma realidade já vencida. A angústia que constringe os demônios (v. 34) mostra claramente a quem a vitória já pertence. Aqui, já não se trata de um combate decisivo, mas de consequências de outro combate já realizado em outro plano completamento diverso.”
A doutrina católica a respeito dos anjos decaídos não faz outra coisa, senão apoiar-se na tradição bíblica, que nos fala daquele que o próprio Jesus define como “homicida desde o princípio” (cf. Jo 3,8). Os Evangelhos descrevem a permanente oposição demoníaca à missão de Cristo. Nada que se possa definir como superstição...
Mais umas palavras de Gollwitzer: “É precisamente nas aparições demoníacas que a perversão destruidora da criação encontra sua expressão mais forte. Mas esta perversão se oculta também por trás de fenômenos considerados como ‘naturais’. Assim, a enfermidade não é simples acidente físico. O Novo Testamento, para quem ela é também uma perversão, vê através de sintomas naturais a ação do Inimigo em pessoa. Por isso Lucas não se contenta, como Mateus e Marcos, em descrever a cura da sogra de Pedro, mas insiste sobre a forma desta cura: ‘Em tom de ameaça, Jesus ordenou à febre’ (cf. Lc 4,39), de modo que esta a deixou”.
“A permissão divina da atividade diabólica é um grande mistério, mas nós sabemos que Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam (cf. Rm 8,28).” [Catecismo, 395]
Orai sem cessar: “Senhor, teus inimigos perecerão!” (Sl 92,9)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Escute a reflexão no vídeo abaixo
Leitura do Evangelho de São Lucas,
Cap. 4, 31-37.
Jesus ensina em Cafarnaum e cura um endemoninhado —31Desceu então a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e ensinava-os aos sábados. 32Eles ficavam pasmados com seu ensinamento, porque falava com autoridade. 33Encontrava-se na sinagoga um homem possesso de um espírito de demônio impuro, que se pôs a gritar fortemente: 34“Ah! Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para arruinar-nos? Sei quem tu és: o Santo de Deus”. 35Mas Jesus o conjurou severamente: “Cala-te, e sai dele!” E o demônio, lançando-o no meio de todos, saiu sem lhe fazer mal algum. 36O espanto apossou-se de todos, e falavam entre si: “Que significa isso? Ele dá ordens com autoridade e poder aos espíritos impuros, e eles saem!” 37E sua fama se propagava por todo lugar da redondeza.
Fonte: Bíblia de Jerusalém

