
ESCRAVO DO PECADO (Jo 8, 31-42)
Antonio Carlos Santini
4/9/2025
Bem sei que este não costuma ser propriamente um tema “paroquial”. O tema do pecado é considerado antipático, fora de moda, em especial após a enxurrada freudiana que invadiu o pensamento e as consciências. Por isso mesmo, ele passa longe das homilias e sermões habituais. Até a palavra “pecado” costuma ser evitada, eufemisticamente substituída por “falhas” ou “fragilidades”. No entanto, se o pecado é ignorado, para que precisaríamos de um Salvador?
Na verdade, a Igreja jamais se deteve no pecado como um desastre sem conserto. Ao contrário, a liturgia quase faz o elogio do pecado, ao cantar com Santo Agostinho: “Ó feliz culpa, que nos mereceu tão grande Salvador!” [O felix culpa, quæ talem ac tantum méruit habére Redemptórem!] Sem ter caído no pecado, jamais chegaríamos a conhecer a infinita misericórdia de Deus.
Neste Evangelho, Jesus é categórico na solene afirmativa: “Aquele que faz o pecado torna-se seu escravo” (v. 34) No original grego, está o verbo “poiôn” [= faz]. O pecado é algo que se “faz”, uma obra do homem que se afasta do amor de Deus, seja por atos, palavras, pensamentos ou omissões. Como consequência, perde-se a liberdade para amar, e amar mais.
Os confessores e conselheiros conhecem bem a situação do penitente ou consulente que, após algum tempo a repetir os mesmos pecados, vê estratificar-se em seu íntimo uma “segunda natureza” que passa, por conta própria, a decidir o destino da pessoa. O povo tem uma palavra para isto: vício. Uma situação em que se estabelece forte dependência (não só de drogas, álcool e tabaco, mas também do jogo, da masturbação, da gula, da prostituição, da maledicência, da indiferença etc.), a ponto de a faculdade volitiva ficar praticamente anulada. Experimenta-se visível escravidão.
Na prática, é comum que o novo “escravo” tente sufocar a própria consciência. Muitos procuram justificativas intelectuais para sua conduta, ou tentam transferir a responsabilidade para outras pessoas [o conhecido bode expiatório], a situação familiar, as condições sociais, as estruturas econômicas. Fogem da Palavra de Deus, recusam conselhos de pais e amigos, afastam-se da Igreja. Tudo em vão.
A consciência não se cala. E é exatamente o sentimento de culpa o mais destrutivo de todos os invasores do coração humano. É hora de ouvir a exortação do apóstolo Paulo aos Gálatas: “É para a liberdade que Cristo nos libertou. Ficai firmes e não vos deixeis amarrar de novo ao jugo da escravidão”. (Gl 5,1) Em tempo: “jugo” é a “canga” que prende o boi de carro pelo pescoço: tão forte e... tão escravo! Vai obedecer às ferroadas do carreiro...
Orai sem cessar: “O Senhor libertará o pobre que o invoca!” (Sl 72,12)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Leitura do Evangelho de João, Cap. 8, 31-42.
Jesus e Abraão —31 Disse, então, Jesus aos judeus que nele haviam crido: “Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos 32 e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. 33 Responderam-lhes: “Somos a descendência de Abraão e jamais fomos escravos de alguém. Como podes dizer: ‘Tornar-vos-eis livres’?” 34 Jesus lhes respondeu: “Em verdade, em verdade, vos digo: quem comete o pecado é escravo. 35 Ora, o escravo não permanece sempre na casa, mas o filho aí permanece para sempre. 36 Se, pois, o Filho vos libertar, sereis, realmente, livres. 37 Sei que sois a descendência de Abraão, mas procurais matar-me, porque minha palavra não penetra em vós. 38 Eu falo o que vi junto de meu Pai; e vós fazeis o que ouvis de vosso pai”. 39 Responderam-lhe: “Nosso pai é Abraão”. Disse-lhes Jesus: “Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão. 40 Vós, porém, procurais matar-me, a mim, que vos falei a verdade que ouvi de Deus. Isso, Abraão não o fez! 41 Vós fazeis as obras de vosso pai! ”Disseram-lhe então: “Não nascemos da prostituição; temos só um pai: Deus”. 42 Disse-lhes Jesus: “Se Deus fosse vosso pai, vós me amaríeis, porque saí de Deus e dele venho; não venho por mim mesmo, mas foi ele que me enviou.
Palavra da Salvação.
Fonte: Bíblia de Jerusalém
O ANJO CAÍDO
Alexandre Cabanel / França /1847
Óleo sobre Tela
120 x 196 cm
Museu Fabré, Montpellier, França
Notar olhar de ódio e medo, com uma única lágrima no rosto.

