
NÃO O QUERIAM RECEBER... (Lc 9,51-56)
Antonio Carlos Santini
9/30/2025
A caminho de Jerusalém, acompanhado de seus discípulos, Jesus de Nazaré passa pelo território pouco amistoso da Samaria e os habitantes locais, cuja inimizade em relação aos judeus era alimentada há séculos (cf. Eclo 50,28), recusam-lhe friamente a habitual hospitalidade oriental.
Na verdade, essa dolorosa experiência de rejeição seria experimentada pelo próprio Jesus com muita frequência. Até mesmo os seus conterrâneos e parentes mostraram cara feia para ele, talvez para confirmar o provérbio de que ninguém é profeta em sua própria terra (cf. Mc 6).
Confirmando a mesma rejeição, a frase lapidar de São João evangelista aparece no prólogo de seu Evangelho: “Ela [a Luz divina] veio para o que era seu, mas os seus não a acolheram”. (Jo 1,11)
Na verdade, não é fácil aceitar a recusa do bem que oferecemos com boa intenção. Pode até brotar um impulso de ódio no íntimo da pessoa que se vê rejeitada. Foi assim com os discípulos de Jesus: Tiago e João – logo em seguida apelidados de “filhos do trovão” – perguntam ao Mestre se deveriam mandar que o fogo do céu descesse sobre os samaritanos. E Jesus a reprovar os dois incendiários: “Não sabeis de que espírito estais animados!” Claro, não era o espírito de amor...
É verdade que os dois raivosos podiam achar uma “base escriturística” para sua reação de violência: no passado de Israel, o profeta Elias invocara o fogo do céu para queimar o novilho do sacrifício e, não contente com sua vitória sobre os 450 sacerdotes de Baal, mandou prendê-los e exterminá-los (cf. 1Rs 19). Claro, Deus imediatamente retirou Elias para a caverna do Horeb e ali o fez passar por uma reeducação, para aprender que o Senhor estava presente na brisa mansa, e não no fogo, no terremoto ou na ventania.
Também hoje, em pleno século XXI, a mensagem da Boa Nova oferecida à Humanidade continua a ser rejeitada. Os ministros de Deus experimentam uma reação de notável frieza (e até mesmo hostilidade!) diante do anúncio do Evangelho. Natural, sofrem com isso. Mas não deviam admirar-se com esta rejeição. O Mestre já havia antecipado esta situação com palavras bem claras: “O servo não é maior que o seu senhor. Se me perseguiram, perseguirão também a vós”. (Jo 15,20)
Diante dessa rejeição, muitos desanimam e acabam desertando de sua missão. Ao contrário, os santos sempre insistem, testemunham e prosseguem seu caminho, a exemplo do Mestre.
Orai sem cessar: “O que ouvi do Senhor, isso eu vos anunciei!” (Is 21,10)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Alianç

Escute a reflexão no vídeo abaixo
Leitura do Evangelho de São Lucas, Cap. 9, 51-56
Má acolhida num povoado da Samaria —51Quando se completaram os dias de sua assunção, ele tomou resolutamente o caminho de Jerusalém 52 e enviou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram num povoado de samaritanos, a fim de preparar-lhe tudo. 53 Eles, porém, não o receberam, pois caminhava para Jerusalém. 54 Em vista disso, os discípulos Tiago e João disseram: “Senhor, queres que ordenemos que desça fogo do céu para consumi-los?” 55 Ele, porém, voltando-se, repreendeu-os. 56 E partiram para outro povoado.
Texto da Bíblia de Jerusalém.

