
O PRIMEIRO DE TODOS... (Mc 12, 28b-34)
Antonio Carlos Santini
3/28/2025
As páginas da Sagrada Escritura estão cheias de exortações, preceitos e mandamentos. Alguns deles são de ordem individual: “Todo homem prudente age com conhecimento de causa.” (Pr 13,16.) Outros, de ordem familiar: “Honra teu pai e tua mãe, para que tenhas vida longa sobre a terra.” (Dt 5,16.) E outros, ainda, de alcance social: “Não entregarás um escravo ao seu senhor, se ele se refugiou junto de ti.” (Dt 23,16.)
Mas essas diversas “leis” não possuem igualmente o mesmo valor. Nós precisamos levar em conta uma correta hierarquia entre os preceitos e os mandamentos. É disto que vem tratar o Evangelho de hoje, quando Jesus aponta como alicerce do Decálogo o “direito” do Deus único a um amor absoluto, sem limitações nem cláusulas condicionantes: “Ama o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças.”
E se este “primeiro” mandamento não é levado em conta, isto é, se Deus não é reconhecido por nós como o único Absoluto, logo estaremos encontrando bons motivos e pretextos aceitáveis para não cumprir os demais, conforme nossos interesses e conveniências. Afinal, se não amo a Deus de modo absoluto, logo estarei amando o dinheiro, o poder, a fama, o prazer, a mesa farta ou a minha coleção de figurinhas premiadas. E estarei pronto a ferir alguém por causa de meus “amores”...
Daí, a conclusão óbvia: qualquer tentativa de viver uma ética puramente humana, baseada apenas no bem comum ou em uma espécie de aérea e esgarçada fraternidade universal, mas deixando de lado qualquer referência ao Criador, estará antecipadamente fadada ao fracasso. A Bíblia ensina que nosso comportamento moral é inseparável de nossa relação com Deus.
Na Encíclica “O Esplendor da Verdade”, sobre a doutrina moral da Igreja, o Papa João Paulo II já escrevia: “Os primeiros cristãos, provindos quer do povo judaico quer dos gentios, distinguiam-se dos pagãos não somente pela sua fé e pela liturgia, mas também pelo testemunho da própria conduta moral, inspirada na Nova Lei”. (VS, 26)
Isto devia ser tão claro, que sequer gerasse polêmica: se não temos um Pai comum, nós não somos irmãos. Se não somos irmãos, por que motivo iríamos abrir mão da ganância, do lucro, dos golpes que nos enriquecem e prejudicam a outros? Se não somos irmãos, por que motivo sairíamos de nossa indiferença e nos sacrificaríamos em benefício de outros? A fraternidade na horizontal humana só tem sentido se vivemos a filiação na vertical divina. Não há irmãos sem um Pai comum...
Um belo projeto de vida: viver como irmãos!
Orai sem cessar: “Quanto eu amo a tua Lei, Senhor!” (Sl 119,97)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Leitura do Evangelho de São Lucas, Cap. 12, 28-34.
O primeiro mandamento —28 Um dos escribas que ouvira a discussão, reconhecendo que respondera muito bem, perguntou-Lhe: “Qual é o primeiro de todos os mandamentos?” 29 Jesus respondeu: “O primeiro é: Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor, 30 e amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma, de todo teu entendimento, e com toda a tua força. 31 O segundo é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não existe outro mandamento maior do que esses”.32 O escriba disse-Lhe: “Muito bem, Mestre, tens razão de dizer que Ele é o único e não existe outro além d'Ele, 33 e amá-Lo de todo o coração, de toda a inteligência com toda a força, e amar o próximo como a si mesmo é mais do que todos os holocaustos e todos os sacrifícios”.34 Jesus, vendo que ele respondera com inteligência, disse-lhe: “Tu não estás longe do Reino de Deus”. E ninguém mais ousava interrogá-Lo.
Fonte: Bíblia de Jerusalém
CRISTO CURANDO O HOMEM POSSUIDO
Desenho de Jacob Jodaens / 1650-1655
Museu Hermitage, São Petersburgo, Rússia.

