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OFERECE A OUTRA FACE (Lc 6,27-38)

OS EVANGELHOSLC 6PR

Antonio Carlos Santini

9/11/2025

Mais uma vez, o Senhor nos escandaliza. Eu sou agredido em uma face e Ele me pede para apresentar também a Outra?! Será que não tenho o justo direito de me defender do agressor? Bem, estamos aqui diante de uma situação que permite certas gradações de comportamento.

No tempo das cavernas, o agredido revidava além da conta. A vingança costumava superar a ofensa. Tanto que foi dada aos antigos a lei de Talião: “Olho por olho, dente por dente” (cf. Mt 5,38). Permitia-se a vingança, mas proporcional à ofensa sofrida. Sim, já era um progresso, pois, se dependesse de nossa capacidade de odiar e revidar, a quem nos furasse um olho, vazaríamos os dois; a quem nos quebrasse um único dente, arrancaríamos a dentadura inteira. Somos assim... A “nova lei” ao menos estabelecia certo equilíbrio entre o crime a punição.

Veio Jesus Cristo e, para nossa surpresa, corrigiu o velho adágio: “Eu, porém, vos digo: não resistais ao mau”. (Mt 5,39.) E não só ensinou assim, mas agiu de acordo com sua lição: cravado na cruz, rezava ao Pai em favor de seus agressores: “Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem!” (Lc 23,34.) Estevão, o protomártir, repetiria a mesma atitude (cf. At 7,60). E Maria Goretti, apunhalada seguidas vezes pelo jovem que tentava estuprá-la, perdoou-o antes de morrer.

Será que não deveríamos escandalizar-nos muito mais com esses exemplos do que com a “estranha” lição do Mestre? Ou, quem sabe, escandalizar-nos com nossa proverbial facilidade em odiar e pedir vingança, com nossa dureza de coração? Parece que nossos escândalos são seletivos...

Sim, certamente existe o direito de defesa. O “Catecismo da Igreja Católica” (nº 2265) ensina: “A legítima defesa pode ser não somente um direito, mas um dever grave, para aquele que é responsável pela vida de outros. Preservar o bem comum da sociedade exige que o agressor seja impossibilitado de prejudicar a outrem. A este título os legítimos detentores da autoridade têm o direito de repelir pelas armas os agressores da comunidade civil pela qual são responsáveis”.

Este é o direito reconhecido. Mas não é forte o suficiente para nos levar a esquecer que o próprio Jesus Cristo recusou defender-se, aceitando a prisão e a morte injustas. Não sem, antes, ordenar a Pedro que embainhasse a espada, alertando-o: “todos os que tomam espada morrerão pela espada”. (Mt 26,52.)

A grande vitória que o Senhor deseja não vem pela força. É antes uma sedução que uma conquista...

Orai sem cessar: “Procura a paz e vai atrás dela!” (Sl 34,15)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Escute a reflexão no vídeo abaixo

Leitura do Evangelho de São Lucas, Cap. 6, 27-38

O amor aos inimigos —27Eu, porém, vos digo a vós que me escutais: Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, 28bendizei os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos difamam. 29A quem te ferir numa face, oferece a outra; a quem te arrebatar a capa, não recuses a túnica. 30Dá a quem te pedir e não reclames de quem tomar o que é teu. 31Como quereis que os outros vos façam, fazei também a eles. 32Se amais os que vos amam, que graça alcançais? Pois até mesmo os pecadores amam aqueles que os amam. 33E se fazeis o bem aos que vo-lo fazem, que graça alcançais? Até mesmo os pecadores agem assim! 34E se emprestais àqueles de quem esperais receber, que graça alcançais? Até mesmo os pecadores emprestam aos pecadores para receberem o equivalente. 35Muito pelo contrário, amai vossos inimigos, fazei o bem e emprestai sem esperar coisa alguma em troca. Será grande a vossa recompensa, e sereis filhos do Altíssimo, pois ele é bom para com os ingratos e com os maus.

Misericórdia e gratuidade —36 Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso. 37Não julgueis, para não serdes julgados; não condeneis, para não serdes condenados; perdoai, e vos será perdoado. 38Dai, e vos será dado; será derramada no vosso regaço uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante, pois com a medida com que medirdes sereis medidos também”.

Texto da Bíblia de Jerusalém.

IMAGEM DE CAPA:

ÍCONE DA TRANSFIGURAÇÃO

Autor Desconhecido / cerca de 1516

Monastério da transfiguração, Bulgária

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