man raising his hand

SOMOS SERVOS INÚTEIS... (Lc 17,7-10)

OS EVANGELHOSLC 17PR

Antonio Carlos Santini

11/11/2025

Em nossa vida, tudo é graça. Tudo é dom. Mesmo o bem que fazemos, só o fazemos porque o amor de Deus agiu em nós. Um santo dizia: “Se eu pequei, Deus me perdoou; se eu não pequei, Deus me sustentou.” De fato, se o Senhor nos entregar a nós mesmos, às nossas más inclinações, boa coisa não sairá...

Hoje, mesmo na Igreja, cresce outra vez a heresia pelagiana. Segundo esta concepção do homem, nós seríamos capazes de fazer o bem e chegar à salvação apenas contando com nosso esforço e boa vontade. Leia-se: sem a graça de Deus. Tal mistura de voluntarismo e esforço heroico (derivada de uma ilusão otimista acerca de nossa natureza!) acaba por dispensar Deus e colocar-nos em seu pedestal.

Garrigou-Lagrange observa: “Na prática, acontece que nos estimemos desmedidamente, como se fossemos o autor das qualidades que existem em nós; acontece comprazer-nos com isso, esquecendo nossa dependência em relação Àquele que é o autor de todo bem, natural ou sobrenatural. Não é raro encontrar uma espécie de pelagianismo prático em pessoas que não são absolutamente pelagianas em teoria”.

Este acesso de loucura existencial se choca com o ensinamento de Jesus: “Sem mim, nada podeis fazer.” (Jo 15,5.) Em tudo, dependemos do Senhor. Sem o Espírito Santo, nos desviamos da verdade. Contando apenas conosco, decaímos em terríveis degradações morais.

Ora, no Evangelho de hoje, somos interpelados por esta frase dura de engolir: “Somos servos inúteis...” Alguns pretendem atenuar a tradução: “Somos uns servos quaisquer... Somos uns pobres servidores...” Mas é bater de frente contra a tradução direta (e literal) da expressão original de São Lucas!

Creio que Jesus sabia o que dizia aos nos qualificar assim. Por um lado, ao chamar apóstolos e discípulos, é claro que Jesus contava com nossa cooperação na construção do Reino. Quis precisar de nossa... inutilidade. Por outro lado, o Mestre devia saber do risco que corremos quando cumprimos nossa obrigação e nos julgamos credores de Deus, com direito a regalias e retribuições especiais. Ele sabe como a vaidade modula nossa voz e orienta nossos gestos. Assim, dá-nos o rótulo de “inúteis” como antídoto contra a soberba. Que bom!

Após uma de minhas primeiras pregações, fui cumprimentado por uma freira bem velhinha (já em fase terminal, devido a um câncer, sem que eu o soubesse). Minha resposta foi pedir-lhe que rezasse por mim, para que eu não ficasse vaidoso. A baixinha cresceu à minha frente, cheia de santa fúria, e botou o indicador em meu nariz: “Vaidoso?! Deus sabe que você, sozinho, não vale nada!”

Deus lhe pague, Irmã Margarida!

Orai sem cessar: “Ó Deus, conheces a minha tolice!” (Sl 69,6)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Escute a reflexão no vídeo abaixo

Leia aqui o Evangelho...

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Lucas cap. 17, 7-10

Servir com humildade 7Quem de vós, tendo um servo que trabalha a terra ou guarda os animais, lhe dirá quando volta do campo: ‘Tão logo chegues, vem para a mesa’? 8Ou, ao contrário, não lhe dirá: ‘Prepara-me o jantar, cinge-te e serve-me, até que eu tenha comido e bebido; depois, comerás e beberás por tua vez’? 9Acaso se sentirá obrigado para com esse servo por ter feito o que lhe fora mandado? 10Assim também vós, quando tiverdes cumprido todas as ordens, dizei: Somos servos inúteis, fizemos apenas o que devíamos fazer”.

Fonte: Bíblia de Jerusalém.

IMAGEM DE CAPA:

ORAÇÃO DE AGRADECIMENTO

Itália / 1901 / Domenico Morelli

Coleção Privada

VOLTAR AO MENU PRINCIPAL:

LEIA MAIS CONTEÚDO SOBRE LUCAS 17: