
TIROU O MANTO... (Jo 13,1-15)
Antonio Carlos Santini
4/17/2025
Um dos símbolos da antiga realeza, juntamente com a coroa e o cetro real, era o manto de honra. Na última ceia em que convive com seus apóstolos, em clima de intimidade e de tensão emocional, Jesus se despe do manto e troca-o por uma tolha. É uma cena de despojamento. E tem o seu sentido.
O manto é uma veste pesada, longa, imprópria para prestar um serviço manual. Além do lado prático, o manto – bem como as comendas e condecorações, os colares de mérito e os paramentos religiosos – acaba por situar seu portador alguns degraus acima da gente comum. E o Mestre precisa ensinar uma última lição: descer...
Aliás, toda a vida de Jesus foi uma permanente descida. Desce do Pai para a mulher, em sua encarnação. O divino desce ao nível dos humanos. Homem, desce ao nível dos servos, lavando os pés dos discípulos. Rebaixa-se ainda mais: aceita morrer na cruz, suplício reservado aos escravos e proibido aos cidadãos. Morto, desce ao túmulo. Depois de sepultado, desce ao Xeol, a mansão dos mortos, para levar a eles a Boa Nova (cf. 1Pd 3,19; 4,6). Acabou a descida? Ainda não: em cada missa, sob a aparência material de uma pasta de água e farinha de trigo, Jesus continua a descer sobre nossos altares.
Ainda queremos subir? Receber aplausos? Merecer honrarias? Subir no pódio? Que fez Jesus Cristo ao lavar os pés de seus discípulos? A resposta nos é dada por Mons. Claude Rault, Bispo do Saara argelino:
“Ele assumiu a condição do Servidor... Ele estabeleceu o sinal que o compromete no caminho do dom de sua vida por todos. E agora pede a seus discípulos que façam o mesmo. Não apenas fazer gestos de gentileza, prestar serviços eventuais, mas serem ‘servidores’ uns dos outros. Ele pede a seus discípulos que tenham uns pelos outros um amor suficientemente forte para ir até o fim, até o dom de sua vida, se assim for preciso.”
Recentemente, com palavras um tanto incômodas, o Papa Francisco veio apontar na mesma direção: “O nosso compromisso não consiste exclusivamente em ações ou em programas de promoção e assistência; aquilo que o Espírito põe em movimento não é um excesso de ativismo, mas primariamente uma atenção prestada ao outro ‘considerando-o como um só consigo mesmo’. Esta atenção amiga é o início duma verdadeira preocupação pela sua pessoa e, a partir dela, desejo procurar efetivamente o seu bem. [...] Unicamente a partir desta proximidade real e cordial é que podemos acompanhá-los adequadamente no seu caminho de libertação”. (EG, 199)
Vamos despir o manto?
Orai sem cessar: “Servi ao Senhor com alegria!” (Sl 100,2)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Leitura do Evangelho de João, Cap. 13, 1-15.
13 O lava-pés —1 Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. 2 Durante a ceia, quando já o diabo colocara no coração” de Judas Iscariotes, filho de Simão, o projeto de entregá-lo, 3 sabendo que o Pai tudo colocara em suas mãos e que ele viera de Deus e a Deus voltava, 4 levanta-se da mesa, depõe o manto e, tomando uma toalha, cinge-se com ela. 5 Depois coloca água numa bacia e começa a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido. 6 Chega, então, a Simão Pedro, que lhe diz: “Senhor, tu, lavar-me os pés?!” 7 Respondeu-lhe Jesus: “O que faço, não compreendes agora, mas o compreenderás mais tarde”. 8 Disse-lhe Pedro: “Jamais me lavarás os pés!” Jesus respondeu-lhe: “Se eu não te lavar, não terás parte comigo”. 9 Simão Pedro lhe disse: “Senhor, não apenas meus pés, mas também as mãos e a cabeça”. 10 Jesus lhe disse: “Quem se banhou não tem necessidade de se lavar, porque está inteiramente puro. Vós também estais puros, mas não todos”. 11 Ele sabia, com efeito, quem o entregaria; por isso, disse: “Nem todos estais puros”. eu o sou. 14 Se, portanto, eu, o Mestre e o Senhor, vos lavei os pés, também deveis lavar-vos os pés uns aos outros. 15 Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais.
Palavra da Salvação.
Fonte: Bíblia de Jerusalém
CRISTO LAVANDO OS PÉS DOS DISCÍPULOS
Paulo Veronese / década de 1580
Óleo sobre tela
139 x 283 cm
Galeria Nacional em Praga, República Tcheca.

