
TRINTA MOEDAS... (Mt 26,14-25)
Antonio Carlos Santini
4/16/2025
Trinta moedas de prata não eram uma quantia desprezível. Por este preço, na Palestina, adquiria-se um escravo. Alguém poderia estranhar que o Filho de Deus custasse o preço de um escravo. Ora, a cruz era proibida a um cidadão romano, mas cabia muito bem a um escravo fugido ou revoltoso. E foi na cruz que Jesus se entregou a nós. Paulo apóstolo, cidadão do Império, foi decapitado porque o Direito Romano não permitia que fosse crucificado, assim como seriam Pedro e André.
Quem estranhou não terá entendido, talvez, a passagem clássica de Fl 2,6ss: “Sendo ele [Jesus Cristo] de condição divina (...), despojou-se, tomando a condição de servo [= escravo]... ele se rebaixou, tornando-se obediente até a morte, e morte numa cruz.” Ao abrir mão, livremente, de sua vontade própria – “Pai, não se faça a minha vontade, mas a tua” (cf. Lc 22,42) -, Jesus Cristo se aniquila da mesma forma como os escravos se aniquilavam diante de seus donos.
Trata-se de um abandono total, sem reservas, movido pelo amor sem limites, a filantropia de Deus por seu povo, que os Padres gregos chamavam de manikos éros, o louco amor de Deus. Enfim, Zacarias previra o preço do Messias: “Pagaram, de fato, o meu salário: trinta siclos de prata. O Senhor me disse: ‘Lança-o ao fundidor, esse belo preço em que fui avaliado por eles.’” (Zc 11,12)
Para melhor acolher dom tão precioso, talvez ajude meditar nas palavras de meu soneto “O Amor imprudente”:
Não peçamos cuidados a quem ama...
Não se espere prudência dos amados...
Na insanidade dos apaixonados.
Arriscam alma, vida, ouro e fama...
Quem tem amores já não teme a lama
Nem os seus braços ver crucificados:
Escandaloso, o amor solta mil brados
E uma resposta ao seu amor reclama!
Não é amor, decerto, se é prudente.
Não é amor se não for chaga ardente:
Uma noite de trevas e de luz...
E o insensato maior que já foi visto
É, com certeza, o próprio Jesus Cristo
Que, apaixonado, se abraçou à Cruz!
Orai sem cessar: “São os nossos sofrimentos que Ele carregou.” (Is 53,4)
Texto e poema de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Leitura do Evangelho de Mateus, Cap. 26, 14-25.
A traição de Judas —14 Então um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi até os chefes dos sacerdotes 15e disse: “O que me dareis se eu o entregar?” Fixaram-lhe, então, a quantia de trinta moedas de prata. 16E a partir disso, ele procurava uma oportunidade para entregá-lo.
Preparativos para a ceia pascal —17 No primeiro dia dos ázimos, os discípulos aproximaram-se de Jesus dizendo: “Onde queres que te preparemos para comer a Páscoa?” 18 Ele respondeu: “Ide à cidade, à casa de alguém e dizei-lhe: ‘O Mestre diz: o meu tempo está próximo. Em tua casa irei celebrar a Páscoa com meus discípulos’”. 19 Os discípulos fizeram como Jesus lhes ordenara e prepararam a Páscoa.
Anúncio da traição de Judas —20 Ao cair da tarde, ele pôs-se a mesa com os Doze21e,enquanto comiam, disse-lhes: “Em verdade vos digo que um de vós me entregará”. 22 Eles, muito entristecidos, puseram-se um por um — a perguntar-lhe: “Acaso sou eu, Senhor?” 23 Ele respondeu: “O que comigo põe a mão no prato, esse me entregará. 24 Com efeito, o Filho do Homem vai, conforme está escrito a seu respeito, mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem for entregue! Melhor seria para aquele homem não ter nascido!” 25Então Judas, seu traidor, perguntou: “Porventura sou eu, Rabi?” Jesus respondeu-lhe: “Tu o dizes”.
Palavra da Salvação.
Fonte: Bíblia de Jerusalém

