TOMAR A PRÓPRIA CRUZ (Lc 14,25-33)
OS EVANGELHOSPRLC 14
Antonio Carlos Santini
9/7/2025
Em 4/09/2022, na missa de beatificação do servo de Deus João Paulo I, o Papa Francisco pregava na homilia:
“Jesus vai a caminho de Jerusalém e, como diz o Evangelho de hoje, ‘seguiam com Ele grandes multidões’. Caminhar com Ele significa segui-lo, isto é, tornar-se discípulo. E, contudo, a estas pessoas o Senhor faz um discurso pouco atraente e muito exigente: não pode ser seu discípulo quem não O ama mais do que aos seus entes queridos, quem não carrega a sua cruz, quem não renuncia aos bens terrenos (cf. 14, 26-27.33). Por que é que Jesus dirige tais palavras à multidão? Qual é o significado das suas advertências? Tentemos responder a estas questões.
Podemos imaginar que muitos ficaram fascinados pelas suas palavras e maravilhados com os gestos que realizava; e, por isso, terão visto n’Ele uma esperança para o próprio futuro. Que teria feito qualquer outro mestre de então, ou que faria um líder astuto ao ver que as suas palavras e o seu carisma atraíam as multidões e faziam crescer o consenso no seio delas? [...]
Nos momentos de crise pessoal e social em que estamos mais expostos a sentimentos de ira ou temos medo de qualquer coisa que ameaça o nosso futuro, ficamos mais vulneráveis e assim, na onda da emoção, confiamo-nos a quem com sagacidade e astúcia sabe cavalgar esta situação, aproveitando-se dos temores da sociedade e prometendo ser o ‘salvador’ que resolverá os problemas, quando, na realidade, o que deseja é aumentar a sua popularidade e o próprio poder, a sua própria imagem, a própria capacidade de controlar as coisas.
O Evangelho diz-nos que Jesus não procede assim. O estilo de Deus é diferente. É importante compreender o estilo de Deus, compreender como age Deus. Deus age segundo um estilo, e o estilo de Deus é diverso do estilo de tais pessoas, porque Ele não instrumentaliza as nossas necessidades, nunca Se aproveita das nossas fraquezas para se engrandecer a Si mesmo. A Ele, que não nos quer seduzir com o engano nem quer distribuir alegrias fáceis, não interessam as multidões oceânicas. Não tem a paixão dos números, não busca consensos, nem é um idólatra do sucesso pessoal. Pelo contrário, parece preocupar-se quando as pessoas o seguem com euforia e fáceis entusiasmos. [...]
O Senhor pede um comportamento diferente: segui-lo não significa entrar na corte, nem participar num cortejo triunfal, nem mesmo garantir-se um seguro de vida. Pelo contrário, significa ‘tomar a própria cruz’: como Ele, carregar os pesos próprios e os pesos alheios, fazer da vida um dom, não uma posse, gastá-la imitando o amor magnânimo e misericordioso que Ele tem por nós. Trata-se de opções que comprometem a totalidade da existência; por isso, Jesus deseja que o discípulo nada anteponha a este amor, nem sequer os afetos mais queridos ou os bens maiores.
Orai sem cessar: “Tu, segue-me!” (Jo 21,22)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Escute a reflexão no vídeo abaixo
Leitura do Evangelho de São Lucas, Cap. 14, 25-33
Renunciar ao que temos de mais caro —25Grandes multidões o acompanhavam. Jesus voltou-se e disse-lhes: 26“Se alguém vem a mim e não odeia” seu próprio pai e mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs e até a própria vida, não pode ser meu discípulo. 27Quem não carrega sua cruz e não vem após mim, não pode ser meu discípulo.
Renúncia a todos os bens —28Quem de vós, com efeito, querendo construir uma torre, primeiro não se senta para calcular as despesas e ponderar se tem com que terminar? 29Não aconteça que, tendo colocado o alicerce e não sendo capaz de acabar, todos os que virem comecem a caçoar dele, dizendo: 30‘Esse homem começou a construir e não pôde acabar!’ 31Ou ainda, qual o rei que, partindo para guerrear com um outro rei, primeiro não se senta para examinar se, com dez mil homens, poderá confrontar-se com aquele que vem contra ele com vinte mil? 32Do contrário, enquanto o outro ainda está longe, envia uma embaixada para perguntar as condições de paz. 33Igualmente, portanto, qualquer de vós, que não renunciar a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo.
Texto da Bíblia de Jerusalém.

